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Esportista, escritor e um dos maiores empresários do país: relembre a trajetória de Abílio Diniz

Visionário incansável do cenário empresarial brasileiro, Abílio Diniz deve ser lembrado com reverência por gerações de empreendedores. Morto aos 87 anos neste domingo (18), o bilionário paulistano e um dos homens mais ricos do país moldou uma trajetória que transcende o mundo dos negócios, pautada por desafios pessoais, familiares, profissionais e uma notável atuação filantrópica.

Diniz foi um dos maiores ícones do segmento varejista como fundador do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), uma das maiores redes de varejo do país. Sua fortuna não foi a única a receber os holofotes na carreira do empresário: ele foi esportista, escritor e também esteve, até recentemente, à frente de um programa de entrevistas na rede de TV CNN

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Empresário Abilio Diniz, da Península Participações
21/03/2018
REUTERS/Ueslei Marcelino

O bilionário era presidente do Conselho de Administração da Península Participações, empresa de investimento privado, focada na criação de valor para o longo prazo. Nascido em 28 de dezembro de 1938, na capital paulista, Abílio Diniz foi um dos homens mais ricos do Brasil, de acordo com a revista Forbes. 

Ele faleceu no dia 18 de fevereiro de 2024, aos 87 anos, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite, segundo nota divulgada pela holding Península, que administra os investimentos de sua família. Ele estava internado em um hospital em São Paulo. Diniz deixou cinco filhos, esposa, netos e bisnetos.

Como Abílio Diniz conseguiu sua fortuna

A trajetória do empresário começou com a vontade de ser professor. Mas seu pai, Valentim (conhecido como “Seu Santos”), tinha outros planos: apostar no segmento varejista. 

Uma doceria, batizada também de Pão de Açúcar, foi o início do patrimônio de Abílio Diniz, em 1948. O negócio foi inaugurado pelo pai do bilionário. 

“Seu Santos”, apesar de se estabelecer em São Paulo, escolheu o nome da doceria da família inspirado na primeira imagem que teve quando chegou ao Brasil, de Portugal: o morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. 

Essa foi a sequência dos negócios iniciais: inaugurou o mercado, comprou uma padaria e optou pelo segmento imobiliário. Ele decidiu construir um prédio com oito apartamentos na região central de São Paulo. A doceria ficava no térreo deste prédio. 

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Abilio Diniz , durante corrida em São Paulo, em agosto de 2000 Crédito: Marcos Issa. Bloomberg News.

E 11 anos depois, a doceria deu lugar a um supermercado, que era administrado por pai e filho. Nascia, naquele momento, o que viria a ser uma das maiores redes de hipermercados brasileiros.

A segunda unidade do Pão de Açúcar foi inaugurada quatro anos depois. Em pouco tempo, o número de lojas chegou a 60 em São Paulo e em outras 16 cidades. O primeiro hipermercado deixou o “Pão de Açúcar” de lado e foi batizado de Jumbo. 

O sucesso levou à compra dos negócios dos concorrentes, como o Sirva-se e Peg-Pag. A aquisição da Eletroradiobraz, também uma grande rede de supermercados, foi o divisor de águas para o grupo. 

A trajetória revelou-se bem-sucedida, mas também houve pontos de conflitos. O primogênito Abílio Diniz mostrou temperamento forte quando teve que disputar com os irmãos – Alcides, Arnaldo, Vera Lúcia, Sonia e Lucília – e com a mãe, Floripes Pires, o controle da empresa, na década de 1990. 

Ele acabou ficando à frente dos negócios, mas as relações familiares enfrentaram um abalo profundo.

Formação

Filho primogênito do casal Valentim Diniz e Floripes Pires, Abílio Diniz cursou o primeiro grau no Colégio Anglo Latino. O antigo colegial foi feito no Colégio Mackenzie, e o curso de Administração, na Faculdade Getúlio Vargas (FGV). Na época, o empresário conciliava os estudos e o trabalho na doceria. 

A continuação seria a pós-graduação que ele cursaria nos Estados Unidos. Mas, na última hora, ele desistiu do curso. Cinco anos depois, em 1965, a viagem finalmente aconteceu. Diniz fez dois cursos nos Estados Unidos: especialização em Marketing, na Universidade de Ohio, e Economia, pela Universidade Columbia.

‘Corte, concentre e simplifique’

Entre as décadas de 1960 e 1970, sob as mãos de Abílio Diniz, o GPA teve bons resultados: foi a primeira rede de supermercados a abrir uma unidade em um shopping center, o Iguatemi, em São Paulo, e a funcionar durante 24 horas. Mas, em 1979, por conta de desentendimentos familiares (disputa dos irmãos pelo grupo), Abílio teve que se afastar da empresa. 

Foi quando o empresário recebeu, ainda em 1979, um convite do então ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen, para fazer parte do Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável por normas do sistema financeiro. Durante 10 anos ele ficou fora, com pai, irmãos e demais profissionais tocando o GPA. 

O pai de Abílio Diniz, porém, vendo que os negócios passavam por problemas, no fim da década de 1980, pediu ao filho que voltasse a ocupar a presidência executiva, enquanto integrava o Conselho de Administração do grupo.  

Diniz desenvolveu um projeto de recuperação emergencial, mas não chegou a executá-lo. É que em março de 1990, o governo Collor implementou um plano de medidas financeiras no país, que gerou falta de caixa na empresa. O Pão de Açúcar ficou à beira da falência. 

Para recuperar a companhia, Diniz pôs em prática o lema “corte, concentre e simplifique”. Aliás, esse foi um mais conhecidos de Abílio Diniz. Foi desta forma que o empresário conseguiu tirar o grupo da falência e o conduziu a um período de expansão. Ele fez realmente na prática o que falou: reduziu o número de lojas de 626 para 262 e cortou os funcionários, de 45 mil para 17 mil. Foi assim que a empresa  colocou de lado o pedido de concordata, que já estava pronto para ir à Justiça. 

Saída do Pão de Açúcar

Durante a década de 1960, a empresa estava focada nos supermercados Pão de Açúcar. A partir de 1970, surgiram outras marcas. Primeiro vieram os Hipermercados Jumbo, em seguida o Assaí Atacadista, Eletroradiobraz, Bartira e Minibox. Na década de 1980, ocorreram mais fusões e aquisições. Em 1995, foi o momento de lançar as ações do Pão de Açúcar ao mercado, na bolsa de valores.

Abilio Diniz decidiu procurar um parceiro internacional estratégico, após a oferta acionária (IPO, na sigla em inglês), em busca de um aporte financeiro. Ele queria um parceiro minoritário do GPA. 

As conversas aconteceram com Carrefour e Walmart. Mas foi com a rede francesa Casino que o negócio engatou. A empresa, em agosto de 1999, adquiriu 24,5% do Pão de Açúcar por US$ 854 milhões. 

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Abílio Diniz/Divulgação

O Casino fez novo aporte no Grupo Pão de Açúcar, em 2005. Com isso, passou a ter 34% na empresa (antes disso, eram 25%).  

Abílio Diniz precisava do montante para colocar algumas pendências em ordem, como as da rede Sendas, comprada em 2003. Mas o “socorro” do Casino veio com um detalhe no contrato: o empresário teria de renunciar à sua posição de controle do GPA em 2012, para que o Casino se tornasse majoritário. Abílio Diniz ficaria no grupo como presidente do conselho. 

Com data marcada para o afastamento, o empresário acelerou o trabalho: comprou a rede Assaí e as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e Casas Bahia. Juntas, elas se tornaram a Via Varejo, hoje Via (VIIA3). O esforço ajudou a tornar o grupo um império do varejo, com 1,8 mil lojas e mais de 140 mil colaboradores. 

O empresário queria achar uma saída para não perder o controle da empresa que havia criado com a família. Uma ideia foi oferecer as ações que ele tinha do Pão de Açúcar para papéis da controladora do Casino, mostrando que a empresa tinha mudado e crescido. Mas não deu certo. O Casino executou o contrato e Diniz teve que passar à rede francesa o controle do Pão de Açúcar. 

O bilionário, porém, nunca esqueceu a empresa que ele e o pai tinham criado e queria retomar o poder. Ele chegou a abrir um processo de arbitragem contra o Casino. 

Em vez de se aposentar, Abílio Diniz se uniu à rival francesa Carrefour (CRFB3). Hoje, ele é um dos sócios da empresa e vice-presidente do conselho de administração no Brasil.

A Península, family office da família Diniz, é atualmente o segundo maior acionista do Carrefour, com 8,43% de participação do capital e 13,73% do capital votante, atrás apenas da Galfa.

Retorno ao Pão de Açúcar

O Grupo Pão de Açúcar foi tirado das mãos de Abílio Diniz em 2012. Onze anos depois, o momento era visto como a chance da “desforra” do empresário, com o Casino atravessando sérios problemas financeiros e se desfazendo de ativos pelo mundo, por conta de uma crise que foi impulsionada pela pandemia do novo coronavírus e pelos altos juros na Europa.

Recentemente, o Casino divulgou a intenção de vender as suas posições no GPA, do qual é acionista controlador, com 40,9% dos papéis. 

O mercado chegou a especular que Abílio Diniz estaria interessado no negócio, algo que foi bem recebido pelos analistas do mercado. Mas ele não seria o único. Fundos de investimentos nacionais e internacionais estariam também de olho no GPA.

Como estava Abilio Diniz em 2023?

Aos 85 anos, Abílio Diniz não parou. Em 2023, ele era presidente do Conselho de Administração da Península Participações, presidente do Conselho de Administração da BRF, e membro dos Conselhos de Administração do Grupo Carrefour e do Carrefour Brasil. E também era sócio majoritário das Casas Bahia, por meio da controladora Globex S/A.

Ele ainda era torcedor fervoroso do São Paulo Futebol Clube, pratica esportes e estava à frente de um programa de entrevistas na TV, além de dar aulas na FGV-SP. 

Qual foi seu patrimônio?

De acordo com a revista Forbes, em agosto de 2023, Abílio Diniz ocupava a posição 1.272 no ranking global de pessoas mais ricas do mundo, com umpatrimônio líquido de US$ 2,4 bilhões. Houve um “rebaixamento”, de acordo com a Forbes de 2022, quando Diniz ocupava o lugar 1.163, com patrimônio líquido de US$ 2,7 bilhões. O empresário foi eleito, em 2016, o 14º brasileiro mais rico e o 477ª milionário do mundo.

Vida pessoal e família

Abilio Diniz era casado e teve seis filhos. Quatro deles são do primeiro casamento, em 1960, com Maria Auriluce Falleiros: Ana Maria, João Paulo (morreu em julho de 2022, de infarto), Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com a economista Geyze Marchesi, nasceram Rafaela e Miguel.

Além dos negócios, um dos fatos mais marcantes da vida de Abílio Diniz foi o sequestro do qual foi vítima, em 11 de dezembro de 1989, no Jardim Europa, zona sul de São Paulo. Ele ficou em cativeiro por seis dias. Foram presos dez sequestradores. 

O primogênito Abílio Diniz mostrou temperamento forte quando teve que disputar com os irmãos – Alcides, Arnaldo, Vera Lúcia, Sonia e Lucília – e com a mãe, Floripes Pires, o controle da empresa, nos anos 90. Ele ficou à frente dos negócios, mas as relações familiares enfrentaram um abalo profundo.

Filantropia

O empresário, durante a pandemia do novo coronavírus, fez doações que chegaram a R$ 50 milhões, montante que veio do grupo da família, para combater a doença. Abílio Diniz explicou que resolveu divulgar o valor para estimular a doação de demais companhias. 

Indicação de livros

Entre os hábitos diários de Abílio Diniz estava o da leitura. Os títulos que ele destacava são:

  • Vencedores por opção e Empresas feitas para vencer, de Jim Collins
  • Como chegar ao sim com você mesmo, de William Ury
  • Um lugar chamado liberdade e O terceiro gêmeo, de Ken Follet
  • Millennium, de Stieg Larsson
  • Headhunters, de Jo Nesbo

O empresário é também escritor. Em 2004, ele lançou “Caminhos e Escolhas”, e, em 2016, “Novos Caminhos, Novas Escolhas”

Em 2015, a jornalista Cristiane Correa lançou o livro “Determinado, ambicioso e polêmico: A trajetória de Abilio Diniz” sobre o empresário. 

Morte em 2024

O empresário morreu aos 87 anos no dia 18 de fevereiro de 2024, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite, segundo nota divulgada pela holding Península, que administra os investimentos da família. Ele estava internado em um hospital em São Paulo. Diniz deixou cinco filhos, esposa, netos e bisnetos.

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