Embora os bancos tenham uma visão otimista sobre os números financeiros da Petrobras (PETR4) que serão divulgados na próxima quinta-feira (07), a atenção do mercado está voltada para o anúncio dos dividendos.
Isso porque Jean Paul Prates, CEO da companhia, declarou no fim de fevereiro que a petroleira seria mais cautelosa no pagamento de dividendos extraordinários (que se refere ao lucro não previsto no caixa de uma companhia). Após a declaração, os papéis da estatal sofreram uma queda de mais de 6%. Em um só dia, a companhia perdeu R$ 30 bilhões em valor de mercado.
“Acreditamos que a correção do preço das ações observada indica que os investidores estão significativamente mais céticos em relação à possibilidade de um dividendo extraordinário ser anunciado em 7 de março”, avaliaram Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins, analistas do Goldman Sachs, em relatório enviado ao mercado.
De qualquer maneira, a dupla projeta espaço para pagamento de até US$ 8 bilhões em dividendos extraordinários, o que equivale a um dividend yield (rendimento de dividendos) de 7%.
“A possibilidade de um dividendo extraordinário permanece viável à luz da forte geração de caixa da companhia”, destacaram os analistas.
Vale lembrar que a política de remuneração aos acionistas da companhia prevê que, em caso de endividamento bruto inferior a US$ 65 bilhões, ela poderá distribuir aos seus acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e as aquisições de ativos imobilizados e intangíveis (investimentos).
Na expectativa do Santander, a estatal deve antecipar US$ 7,5 bilhões em dividendos, o que representa um rendimento de 7% no trimestre. Do total, US$ 4 bilhões devem ser referentes ao pagamento de dividendos trimestrais e US$ 3,5 bilhões como dividendos extraordinários relacionados ao ano de 2023.
Já o Itaú BBA estima um desembolso entre US$ 4,7 bilhões e US$ 8,5 bilhões, o que implica em um rendimento que pode variar entre 4,2% e 7,7%.
“Essa faixa é baseada em uma análise prospectiva que considera não apenas o excesso de caixa no final do ano, mas também as perspectivas de posição de caixa da empresa para os próximos 24 meses”, explica em relatório Monique Natal, do Itaú.
Dados financeiros
Para os bancos que cobrem a companhia, as expectativas em prol dos resultados financeiros são positivas. Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz, analistas do Santander, prevêem que a petroleira entregue resultados fortes, com expectativa de um Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Ebitda) de US$ 15,1 bilhões no quarto trimestre de 2023 – um avanço de 8% se comparado ao mesmo período de 2022.
“Em nossa opinião, o forte quarto trimestre da Petrobras deve ser em grande parte impulsionado pelo aumento de 2% na produção doméstica de petróleo no terceiro trimestre, com lucratividade, dada a maior participação do pré-sal no mix e crack spreads continuamente fortes”, pontuaram em relatório divulgado ao mercado. Para a dupla, isso deve compensar em grande parte o declínio de aproximadamente 3% nos preços do Brent no terceiro trimestre.
O Itaú BBA também calcula um Ebitda de US$ 15 bilhões no quarto trimestre, impulsionado pelo aumento da produção e melhores margens de refinação.
“Isso provavelmente permitirá o pagamento de um dividendo de US$ 3,9 mil milhões no trimestre, de acordo com a política de remuneração, que implicaria um rendimento de 3,6%”.
Para Daniel Cobucci, do Banco do Brasil, o resultado financeiro do quarto trimestre deve manter o fluxo de boas notícias para o papel, “fechando o ano com boa geração de caixa e ainda a possibilidade de dividendos extraordinários”.
Ele reitera que a possibilidade de dividendos extraordinários justifica a subida de mais de 100% no preço dos papéis em 2023. Para ele, os múltiplos da estatal medidos pelo EV/Ebitda (indicador que analisa o valor da empresa sobre suas dívidas e taxas) ainda são considerados atrativos, de 2,8 vezes, ante 4,1 vezes dos pares globais.
Segmento de petróleo e gás
Em relatório sobre expectativas para a temporada de balanços do quarto trimestre, Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP Investimentos, destacaram a redução no preço médio do Brent no trimestre (US$ 84 o barril, uma redução de 3,3% em relação ao trimestre anterior), parcialmente compensada pela valorização do real.
“Apesar do desempenho da commodity, no geral, esperamos bons resultados para as empresas sob nossa cobertura. No entanto, cada empresa está sujeita à circunstâncias de especificas”.
No setor, os analistas afirmaram que a PetroReconcavo (RECV3) deve continuar enfrentando impactos das restrições de escoamento de produtos, enquanto a PRIO (PRIO3) deve apresentar uma leve queda na receita.