A Raízen (RAIZ4), maior produtora de açúcar e etanol do Brasil, está antecipando receitas futuras de um contrato para vender seu etanol de segunda geração para a Shell, em um esforço para ajudar a financiar a construção de novas fábricas de biocombustíveis.
A empresa está recebendo US$ 617 milhões adiantados, o que equivale a cerca de 20% dos volumes contratado pela Shell em 2022 por meio de uma das tradings do grupo, com entrega até 2037, disse em entrevista o diretor financeiro da Raízen, Carlos Moura. A Raízen é uma joint-venture entre Shell e Cosan.
A Raízen usará a receita para ajudar a financiar cinco de um total de sete usinas que devem entrar em operação até 2027. Atualmente, a empresa já possui duas dessas unidades que utilizam resíduos de cana-de-açúcar para produzir etanol de segunda geração.
O produto é uma aposta fundamental para reduzir a pegada de carbono do etanol e capturar a demanda especialmente na Europa, onde há metas desfavoráveis a biocombustíveis provenientes de ingredientes alimentares. A menor intensidade de carbono do etanol de segunda geração também o torna um candidato a exportação para fábricas de combustível sustentável de aviação que estão sendo construídas nos EUA.
Embora reconheça que alguns analistas veem o combustível baseado em resíduos com ceticismo, uma vez que a produção em escala ainda está se desenvolvendo globalmente, o diretor de relações com investidores, Phillipe Casale, afirma que a Raízen agora tem “controle total da terra, da tecnologia e da matéria-prima a ser utilizada no processo”.
A mais recente estratégia financeira vem depois da Raízen no mês passado emitir títulos verdes para ajudar a financiar sua produção de biocombustível baseada em resíduos.
Na estratégia de antecipação de recebíveis está implícito custo variável que depende do preço futuro do etanol, disse Moura. A um preço mínimo acordado, o custo seria equivalente a uma dívida em dólar a uma taxa de 7% ao ano, e esse número diminuiria se os preços dos combustíveis subirem. Em comparação, os investidores exigiram 6,19% de rendimento na colocação de US$ 1 bilhão em títulos da Raízen com vencimento em 2034.
Moura apontou vantagens como a proteção contra a volatilidade cambial e de juros, bem como o fato de a operação estar vinculada a um contrato de fornecimento de longo prazo.
“É um modelo de engenharia de produto, comercial e financeira que poderá nos permitir no futuro licenciar novas plantas com baixo custo de capital”, disse o executivo.