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Fundadores voltam ao comando de companhias

A retomada de estratégias que pareciam ter ficado no passado em algumas companhias brasileiras  chamou a atenção do mercado nos últimos meses. TokStok e, mais recentemente, Vivara trouxeram de volta ao comando da companhia seus fundadores. A Casas Bahia foi rebatizada com seu nome de origem – decisão que ilustra uma série de outras mudanças com ares de flashback. E a tradicional Bombril voltou a ser comandada pelo executivo que conduziu a reestruturação da companhia, ocupando a cadeira de CEO, até 2021.

Cada um desses casos tem suas peculiaridades, é verdade. A mudança pode ser uma resposta a problemas de mercado, a questões internas que imponham um ‘turn around’ do negócio ou ainda à relação do fundador com a companhia. Mas, de alguma forma, são resultado do mesmo pano de fundo: o desafio de empresas do setor de varejo e consumo, setor mais afetado pelo cenário de juros e inflação altos que se agravou no pós-pandemia.

“Em tese, não deveria haver retrocesso no plano de transição que afasta o fundador do dia a dia da empresa”, diz o consultor Alberto Serrentino. “Isso pode acontecer em uma situação de crise, quando há falta de liderança ou resultados ruins.”

Um caso marcante foi o da  fundadora da TokStok, Ghislaine Dubrule, que retomou o posto de CEO, no qual esteve entre 2012 e 2017. A decisão contou com o apoio dos investidores institucionais que compõem a base acionária, e veio como resposta aos problemas financeiros enfrentados pela varejista. “A empresa estava se afastando dos valores que a tornaram relevante no passado”, define Serrentino.

Já a Vivara tem outro contexto. A empresa vem exibindo  bons resultados. Ainda assim, Nelson Kaufman voltou ao comando após 13 anos afastado do cargo, prometendo um crescimento ainda mais acelerado, em um plot twist na companhia que provocou uma queda de 16% da ação desde o anúncio.

Serrentino lembra que, na história, há casos clássicos nos quais a volta ao passado teve impacto positivo. O mais conhecido deles talvez seja o da Apple, que chamou Steve Jobs de volta ao posto de CEO em 1997 para implementar um plano de reestruturação que fez da companhia a gigante que é atualmente, anos depois de ele ter sido demitido da própria empresa.  

“Mas normalmente a sucessão é planejada. Empresas de origem familiar deveriam preparar sucessores na família ou planejar um processo em que haja pilares de cultura e governança”, explica o consultor.

Para Renato Bagnolesi, sócio e gestor da FESA Group,  “não há nada de errado” na volta do fundador ao comando. Ainda assim, essa decisão pode indicar que o plano em vigor não está dando certo. “Isso leva a uma reflexão de que algo não saiu como o esperado”, observa.

Mas há casos, observa, em que a mudança diz mais sobre o executivo do que sobre a companhia. “Há fundadores que gostam mais da empresa do que da família, e que têm dificuldade em transferir o comando”, diz. “Muitas vezes é mais importante cuidar de quem está saindo da companhia do que com quem está assumindo. Se o fundador não tiver um outro plano de vida, ele vai interferir.”

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