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Exportador aproveita ganho cambial para trazer dólares ao Brasil e segura alta da moeda americana

A desvalorização do real em relação ao dólar em abril chamou a atenção dos exportadores. Até então, os recursos obtidos com a venda de commodities agrícolas e minerais estavam ficando fora do país, mas a trajetória de alta da moeda norte-americana fez com que parte desses recursos voltassem ao Brasil.

Aqui, os dólares são trocados por reais. Isso amplia a oferta de moeda americana no mercado, segurando a alta do dólar.

Dados do Banco Central divulgados nesta quinta-feira (18) mostram que o fluxo cambial foi positivo na semana passada, entre os dias 8 e 12 de abril, por causa da entrada de US$ 2,5 bilhões pela conta comercial. No acumulado do mês, houve a entrada de US$ 5,5 bilhões por essa via, suficiente para cobrir as saídas pela conta financeira, deixando um saldo positivo de US$ 1,3 bilhão no período. 

Os números sugerem uma mudança de direção das estatísticas referentes ao câmbio contratado, já que nos primeiros dias do mês, as saídas pelo canal financeiro –  por onde são realizados os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, as remessas de lucro e o pagamento de juros, entre outras operações – superavam em US$ 684 milhões as entradas pelo canal comercial.    

Profissionais das mesas de operação no mercado financeiro afirmam que a entrada de capital dos exportadores ficou mais perceptível nesta semana. Afinal, em apenas dois pregões, o dólar subiu 2,90%, atingindo o maior nível desde março de 2023. No mês até terça-feira (16), a valorização era de 5%, representando boa parte da alta de 8,60% em 2024. 

“5% no câmbio é muita coisa. O exportador recebeu dólares a R$ 5,00; capitalizado, deixou lá fora. Agora entra com a moeda a R$ 5,25”, explica um operador sênior de derivativos. Ontem, o dólar fechou em queda de 0,50%, interrompendo cinco altas seguidas.

Exportadores estavam deixando dólares fora do país por causa das incertezas políticas (Fonte: Unsplash)

Até então, havia uma desconfiança entre os exportadores, como mostra um estudo realizado pela Genial Investimentos. Ele mostra o seguinte: desde 2022 houve um descolamento entre os valores exportados e o que de fato entra no país, refletindo principalmente as incertezas políticas internas. 

Para dar uma ideia: antes da pandemia, o percentual de internalização dos recursos era próximo de 100%. Vale lembrar que no mesmo período o Brasil teve um aumento relevante do superávit comercial, com o saldo positivo praticamente dobrando – passou de cerca de US$ 50 bilhões em 2020 para US$ 100 bilhões no ano passado. 

Para cima ou para baixo

Conclusão: o câmbio apresentou uma valorização inferior à que poderia ter ocorrido, uma vez que parte desses dólares via balança comercial não foram convertidos em reais, explica o economista-chefe da Genial, José Márcio Camargo. “O dólar terminou 2023 na casa dos R$ 4,85, mas poderia ter chegado a R$ 4,60”, diz.

Da mesma forma, a alta recente do dólar poderia ter sido ainda maior, caso os exportadores optassem por manter parte importante das receitas fora do país. “Os exportadores trouxeram muitos dólares recentemente e o câmbio tem agora um novo equilíbrio”, avalia o diretor de trading de um banco estrangeiro.

Não é possível saber exatamente quais empresas ingressaram com recursos externos no Brasil. O InvestNews tentou contato com algumas exportadoras, mas não obteve retorno.

Prudência e dinheiro no bolso

Seja como for, o noticiário das últimas semanas – em meio ao acirramento das tensões no Oriente Médio, às incertezas da política monetária nos Estados Unidos e à mudança na meta fiscal do governo – sugere que algumas empresas podem optar por manter seus dólares fora do Brasil. 

LEIA MAIS: A tempestade perfeita que bomba o dólar e os juros

“Tem quem internaliza para aproveitar [o ganho cambial]. Outros seguem deixando fora temendo um cenário ainda mais estressado”, comenta um profissional da mesa de commodities de uma corretora de câmbio. 

Para a Genial Investimentos, a expectativa de uma safra menor em 2024 mais a de que os juros brasileiros permaneçam em um nível restritivo podem afetar o investimento do agronegócio. Camargo finaliza: “Isso diminui os incentivos para que os exportadores agrícolas repatriem seus recursos do exterior”.

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