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Na ata do Copom, o mercado quer ouvir os dissidentes

O placar dividido da última reunião do Copom pegou os investidores de surpresa. E causou muito ruído: o dólar e os juros futuros subiram, refletindo o receio de que o Banco Central seja leniente com a inflação.

Mas o que pegou mal não foi exatamente a divisão de 5 a 4. Foi a ausência de justificativa técnica para esses votos dissidentes. E é isso que os analistas querem ver na ata da reunião, que será conhecida nesta terça-feira, às 8 horas.

Na última quarta, o Copom cortou o juro em 0,25 ponto percentual, para 10,5%. Mas quatro diretores – justamente os que foram indicados pelo governo Lula – defenderam um corte mais forte, de 0,5 ponto.

A decisão foi mal vista porque o texto do comunicado expressou apenas os motivos de preocupação com a inflação, que basearam os votos em um corte mais moderado da Selic. O texto afirmou, por exemplo, que o cenário internacional e a inflação por aqui impunham cautela. E subiu o tom ao substituir a palavra “desalinhada” por “desancorada” ao falar das expectativas para as altas nos preços.

Então por que, mesmo assim, quatro diretores insistiram em cortar o juro em 0,5 ponto? É essa explicação  que todo mundo vai querer encontrar na ata – mesmo sabendo que vai ser difícil convencer o mercado de que houve um debate puramente técnico, ou que há algum alinhamento de pensamento entre os membros do Copom.

A questão, insistem os especialistas, não é a divisão de votos dentro de um comitê de política monetária, o que é algo muito comum entre bancos centrais independentes. O Federal Reserve tem dissensos com relativa frequência.

A última vez que isso ocorreu foi em dezembro de 2022, quando oito diretores votaram por um aumento do juro e quatro defenderam a manutenção. No caso do Banco da Inglaterra (BoE), a divisão é ainda mais frequente, especialmente depois da pandemia. Na última reunião, a manutenção do juro foi decidida por 7 a 2. Nos dois casos, a transparência é tamanha que os todos os integrantes do comitê manifestam suas visões publicamente, antes das reuniões de política monetária.

Ou seja: o placar do Copom da semana passada, por si só, não é uma questão; a ausência de razões técnicas para essa dissidência, sim. “E aí o mercado fica com a sensação de que há razões de ‘política’, e não de ‘policy’ [no sentido de ‘política de juros’]”, define um economista, que prefere não ser identificado.

A consequência prática desse tipo de situação, a gente já sabe: perda da confiança, que leva à deterioração das expectativas. Receita clássica para mais inflação.

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