Vladimir Putin está concluindo uma viagem à China, onde seus laços calorosos com o presidente Xi Jinping resultaram em um comércio crescente e uma coordenação de defesa cada vez maior. Mais de dois anos após o início da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022, a situação da Rússia está longe do isolamento pretendido pelos Estados Unidos e seus aliados do G7.
Potências ocidentais impuseram sanções abrangentes, congelaram os ativos estrangeiros da Rússia e expulsaram os principais bancos russos do sistema de mensagens financeiras SWIFT. Um ano depois, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão para Putin, alegando crimes de guerra. Moscou parecia encurralada.
O apoio da China é espelhado por uma rede de outros estados que impediram que a Rússia se tornasse um pária. Muitos se juntam a Moscou para reforçar interesses comuns em cúpulas como o G20 e para rivalizar com as potências ocidentais em clubes como o BRICS. Alguns são movidos por interesses pragmáticos, focando em energia, comércio ou considerações econômicas. Para outros, o que importa é a cooperação militar ou o comércio de armas. Frequentemente, eles compartilham uma visão comum com a Rússia: um desejo de suplantar a ordem mundial liderada pelos EUA após a Guerra Fria.
Brasil
O que a Rússia ganha: A Rússia se beneficia diplomaticamente dos laços com a maior economia da América Latina e a liderança relativa que tem na região. O Brasil é um membro fundador do grupo de países BRICS juntamente com a Rússia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado até agora posicionar seu país como uma nação neutra que pode manter laços tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia e rejeitou repetidamente os apelos para enviar armas a Kiev, argumentando que a estratégia dos EUA e da União Europeia está minando a perspectiva de uma solução negociada.
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O que o Brasil ganha: No campo comercial, o Brasil importa fertilizantes russos, bem como produtos de diesel e petróleo. Mais importante, o Brasil ganha um parceiro nos esforços para reformar a ordem global liderada pelos EUA; Lula há muito tempo defende reformas nas instituições globais como o FMI para torná-las mais representativas do Sul Global. Mas, mesmo à parte de Lula, os líderes brasileiros há muito encontram na Rússia um aliado seguro e não crítico.
China
O que a Rússia ganha: A China tem sido um suporte diplomático e econômico vital para Moscou. A Rússia tem comprado eletrônicos, equipamentos industriais e carros, enquanto vende petróleo e gás ao seu vizinho asiático, mesmo que — como no caso do gás — seja com desconto em relação ao que ganhava fornecendo para a Europa. O comércio bilateral atingiu um recorde de US$ 240 bilhões em 2023. Mas o que Moscou mais valoriza é ter um parceiro poderoso que compartilha do objetivo do Kremlin de desafiar a ordem liderada pelos EUA e excluir as alianças lideradas por Washington daquilo que consideram sua esfera de influência.
O que a China ganha: Pequim também aprecia ter outro estado autoritário e poderoso ao seu lado enquanto busca remodelar a ordem internacional. Rússia e China têm coordenado cada vez mais suas posições no Conselho de Segurança da ONU, onde ambos possuem poder de veto, e se uniram contra os EUA. A cooperação militar está se aprofundando e a Rússia vendeu à China alguns de seus sistemas de armas mais avançados. Uma vitória russa na Ucrânia enfraqueceria a influência dos EUA enquanto a China considera suas ambições sobre Taiwan, cujo território é reivindicado por Xi Jinping.
Arábia Saudita
O que a Rússia ganha: Primeiramente, a Rússia ajuda a moldar o mercado global de petróleo e maximizar a receita crucial para o Kremlin através da aliança OPEP+ de nações produtoras de petróleo, que os dois países dominam. A Arábia Saudita se esforçou para não condenar a Rússia após o início da guerra. Putin também visitou o Reino em dezembro, em uma rara incursão ao exterior que demonstrou que ele ainda é bem-vindo em algumas partes do mundo.
O que a Arábia Saudita ganha: Além da parceria OPEP+, a Arábia Saudita tem se beneficiado da ajuda russa para evitar o status de pária. Putin foi um dos poucos líderes a abraçar o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman com sorrisos e apertos de mão em uma cúpula do G20 em 2018, dois meses após agentes de seu país assassinarem o colunista do Washington Post Jamal Khashoggi. Desde então, o presidente dos EUA, Joe Biden, reverteu sua promessa de isolar Riad por causa do assassinato de Khashoggi e buscou fortalecer a aliança entre os dois países. Mas, como a política externa saudita é cada vez mais pragmática e movida por interesses econômicos, os laços com Moscou provavelmente se aprofundarão.
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Turquia
O que a Rússia ganha: Putin equilibra a rivalidade geopolítica com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan em lugares como Síria, Líbia e a região do Cáucaso, enquanto promove o comércio com seu terceiro maior mercado de exportação no ano passado. A Turquia também se tornou um país crucial para importações indiretas de bens sancionados que a Rússia procura, ajudando Putin a manter os laços globais do país.
O que a Turquia ganha: Embora esteja oficialmente apoiando a Ucrânia na guerra, Erdogan se recusou a aderir às sanções contra a Rússia, que é um grande fornecedor de gás para a Turquia e está construindo lá sua primeira usina nuclear. As indústrias de turismo e agricultura da Turquia dependem fortemente do mercado russo. Erdogan se posicionou como um mediador autodeclarado entre a Ucrânia e a Rússia, ajudando a intermediar acordos sobre envios de grãos e trocas de prisioneiros.
Irã
O que a Rússia ganha: A Rússia recorreu ao Irã para drones que auxiliem sua guerra na Ucrânia e está construindo uma rota comercial que passa pela Índia e vai até com Teerã, o que pode ajudar a enfraquecer o impacto das sanções internacionais. Autoridades russas e iranianas discutiram o aumento da cooperação financeira e bancária para aliviar a pressão das sanções, enquanto Moscou aprende com a experiência do Irã de décadas de isolamento.
O que o Irã ganha: O Irã busca armas na Rússia, incluindo sistemas de defesa aérea e jatos de combate para substituir equipamentos obsoletos. Também contou com Moscou para construir sua usina nuclear de Bushehr. Teerã se uniu à Rússia para apoiar o presidente Bashar al-Assad na guerra da Síria e compartilha a hostilidade de Moscou à presença dos EUA no Oriente Médio.
Índia
O que a Rússia ganha: A Índia, o terceiro maior consumidor de petróleo bruto do mundo, tem sido um grande comprador de petróleo russo, com desconto desde a invasão da Ucrânia. Mas a aplicação mais rigorosa das sanções dos EUA, que visam sufocar o fluxo de petrodólares para os cofres do Kremlin, agora está interrompendo os suprimentos. O relacionamento com a Índia confere legitimidade à Rússia enquanto corteja o chamado Sul Global.
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O que a Índia ganha: Petróleo com desconto, mas a Rússia também tem sido um fornecedor de armas confiável e de longa data. Moscou tem estado disposta a ajudar a nação sul-asiática usando seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para apoiar os interesses indianos. Laços fortes com a Rússia também proporcionam um contrapeso a outras grandes potências globais, ajudando a Índia a manter sua autonomia estratégica.
Hungria
O que a Rússia ganha: O governo do primeiro-ministro Viktor Orban manteve laços estreitos com Putin, com o líder húngaro tendo se encontrado com seu homólogo russo em Pequim em outubro do ano passado. Isso proporcionou a Putin um aliado dentro da União Europeia que, de várias maneiras, bloqueou a ajuda financeira à Ucrânia, ameaçou atrapalhar as negociações de adesão de Kiev ao bloco e até atrasou por mais de um ano a adesão da Suécia à OTAN.
O que a Hungria ganha: Energia. A Hungria é uma das poucas nações da UE que ainda recebe gás russo, e a corporação nuclear russa Rosatom mantém um papel de liderança na expansão de sua única usina atômica. Enquanto isso, Orban, que declarou um modelo de “democracia iliberal”, recebe apoio para sua alternativa ideológica à ordem internacional liderada pelos EUA.
África do Sul
O que a Rússia ganha: O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa se recusou a condenar Putin pela guerra ou a apoiar resoluções das Nações Unidas censurando Moscou pela invasão. As duas nações são membros do BRICS e seus fóruns proporcionaram uma oportunidade para que seus líderes interajam regularmente. Ramaphosa persuadiu Putin a trocar uma participação presencial por uma remota na cúpula do BRICS ocorrida em Joanesburgo no ano passado, poupando Pretória de ter que decidir se o prenderia sob o mandado do Tribunal Penal Internacional.
O que a África do Sul ganha: Embora o comércio entre a Rússia e a África do Sul seja insignificante, eles têm laços históricos de longa data que remontam à postura proativa da União Soviética contra o regime de minoria branca. Vários membros do Congresso Nacional Africano buscaram refúgio e passaram por treinamento militar na Rússia durante a era do apartheid. Empresas russas estavam na corrida para construir novas usinas nucleares na África do Sul durante o mandato do ex-presidente Jacob Zuma, embora os planos para emitir um contrato tenham sido interrompidos desde que Ramaphosa assumiu o cargo em 2018, devido ao custo.
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A Rússia também tem buscado construir boa vontade na África através de assistência de segurança, armas e grãos — suprimentos alimentares que, em parte, foram interrompidos porque sua guerra na Ucrânia ameaçou o transporte marítimo no Mar Negro. Em troca, a Rússia quer acesso a mercados e novos aliados que possam suavizar o impacto das sanções e expandir sua influência militar às custas das potências ocidentais.
Outros países
Uma amizade crescente com Kim Jong Un também beneficiou a Rússia. Os EUA, a Coreia do Sul e outros países alegam que a Coreia do Norte está enviando grandes quantidades de projéteis de artilharia, bem como mísseis balísticos de curto alcance com capacidade nuclear. Em troca, a Rússia é acusada de fornecer alimentos, matérias-primas e peças usadas na fabricação de armas para Pyongyang. A Rússia também vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para estender um painel de especialistas que relatam os desenvolvimentos do arsenal nuclear da Coreia do Norte.
Outros países, como os Emirados Árabes Unidos, onde dezenas de milhares de russos fizeram casa após a eclosão da guerra, e o Egito, bem como antigos aliados como Venezuela e Cuba, também mantiveram laços.
Por enquanto, apesar dos melhores esforços dos EUA e seus aliados, a Rússia está longe de estar isolada.