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Chinesa Oppo, de celulares, adere ao ‘made in Brazil’ para concorrer com Samsung e Apple

A Oppo não precisava tanto assim do Brasil. Com 8% do mercado global de smartphones, a companhia da China só ficou atrás de Samsung, Apple e Xiaomi no ranking do primeiro trimestre de 2024, segundo a consultoria de tecnologia Counterpoint.

A empresa vende seus aparelhos em mais de 60 países. É patrocinadora da Liga dos Campeões da UEFA e dos torneios de tênis de Roland Garros e Wimbledon. E vai bem na América Latina: México, Panamá, Chile, Peru e Colômbia, por exemplo, já são mercados consolidados para a Oppo. Mas por que o Brasil – 7ª população e 8ª economia do mundo – foi esnobado?

“Aqui, para competir e ter escala, é necessária a manufatura local”, explica Marco Vorrath, diretor de vendas da Oppo Brasil. “Não existe entrar no mercado brasileiro só com produto importado. Todo mundo fabrica aqui”.

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A Oppo optou por investir primeiro em mercados latinos que são menos fechados e menos complexos. São lugares em que não há necessidade de fabricação local, e sem que altos impostos de importação ou elevados custos logísticos comprometam a competitividade.

Como se sabe, não é o caso do Brasil. Ainda assim, o país é incontornável para as grandes fabricantes.

“Em um contexto global, o mercado de smartphones vem sofrendo uma queda. E o Brasil é um mercado extremamente relevante. Como é o quarto ou quinto maior do mundo no segmento, não dá para deixar de fora da estratégia”, pontua Vorrath, responsável por botar de pé a estrutura comercial da empresa.

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A bem da verdade, a Oppo chegou por aqui em 2022. Mas não foi bem fincar os pés, foi mais um testar as águas com 100% dos aparelhos importados da China. Para resolver a questão da fabricação local, a Oppo fechou parceria com o Grupo Multi (antiga Multilaser), que vai montar os celulares na sua fábrica em Manaus – na Zona Franca, não há imposto sobre a importação dos componentes, entre outras vantagens fiscais.

Além de parceira de manufatura, a Multi também é responsável por parte do faturamento e por fazer os smartphones chegarem até os pontos de venda. Inicialmente, a estratégia comercial é apresentar os aparelhos aos consumidores de maneira presencial, nas lojas do Magazine Luiza e da Claro.

A Oppo aposta na capilaridade da varejista e da operadora para tornar a marca conhecida do público brasileiro, além de uma estratégia de marketing que inclui o ex-jogador de futebol Kaká como garoto-propaganda. No pós-venda, o foco é a garantia de dois anos para todos os aparelhos da marca chinesa.

A empresa não revela suas metas específicas, mas quer estar entre as três maiores fabricantes de celular do Brasil num horizonte de até cinco anos. Em 2023, a Samsung liderou as vendas no país e ficou com uma participação de mercado de 39,5%. Na sequência vêm a Motorola (20%) e a Apple (18,2%). Os dados são da plataforma alemã Statista.

“A Oppo não está aqui para figurar entre aquelas várias marcas do segundo pelotão. Queremos estar no tier 1”, resume Vorrath.

O Brasil é a bola da vez?

Se os altos custos de fabricação local e a possibilidade de inundar outros mercados com produtos feitos na China afastaram investimentos das marcas chinesas no Brasil, o cenário que se configura agora é bem outro.

Elas enfrentam cada vez mais resistência nos países desenvolvidos.

A Huawei, por exemplo, sofre sanções nos EUA desde 2019, quando o governo alegou que ela poderia espionar seus cidadãos. Empresas americanas não podem fornecer tecnologia para a chinesa. As vendas de smartphones da Huawei não chega a ser ilegal. Mas, por conta das ações do governo, varejistas decidiram deixar de vender os aparelhos da marca.

Enquanto isso, a Huawei segue fabricando celulares de alta tecnologia – que estão prejudicando as vendas de iPhones na China.

E mesmo o gigantesco mercado interno chinês se tornou mais competitivo para as empresas de lá. A Oppo está em meio a uma renhida disputa com Huawei e Xiaomi pelo mercado chinês, o maior do mundo. Enquanto isso, Apple e Samsung lutam para não perder espaço, o que inclui redução de preços e margens espremidas.

No setor automobilístico, a chinesa BYD assumiu a dianteira do mercado chinês de automóveis – também o maior do planeta – e virou alvo preferencial de reguladores e políticos ocidentais. De olho na reeleição, o presidente americano Joe Biden impôs uma tarifa de 100% aos carros elétricos chineses.

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Na Europa, onde a legislação incentiva fortemente a compra de veículos elétricos e há uma infraestrutura de recarga mais consolidada, a União Europeia abriu uma investigação para apurar os subsídios dados pelo governo chinês às montadoras locais. Segundo a consultoria Rhodium Group, só a BYD recebeu US$ 4,3 bilhões em incentivos estatais entre 2015 e 2020.

Neste cenário, abrir o bolso para firmar operações fabris no Brasil se tornou uma estratégia mais viável para as marcas chinesas. Há a possibilidade de firmar parcerias com fabricantes locais – como a feita entre Oppo e a Multi no mercado de smartphones e o casamento entre Chery e CAOA no caso dos automóveis – ou então a construção direta de plantas no Brasil.

A BYD está erguendo em Camaçari, na Bahia, sua maior fábrica fora da China. À semelhança do mercado de smartphones, o Brasil se impõe pelo tamanho também no mundo dos automóveis: somos o sexto maior mercado do mundo. A montadora chinesa anunciou R$ 5,5 bilhões em investimentos no país e também trabalha para ampliar rapidamente o número de concessionárias, que deve chegar a 250 até o final de 2024.