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Quem mais perde, e quem mais ganha, com a alta do dólar

Os números assustam: ao chegar a R$ 5,65, o dólar passou a acumular uma alta de 16,5% no ano, sendo 12,7% no segundo trimestre. Uma desvalorização do real nessa intensidade e de forma tão veloz é uma má notícia para a economia como um todo. Mas, claro, há setores que perdem mais do que os outros.

Empresas que têm custo ou dívida em dólar, mas contabilizam sua receita em reais, são imediatamente afetadas. Esse é o caso de  companhias aéreas e algumas varejistas e indústrias.

O BTG Pactual analisou a situação das principais empresas que compõem o Ibovespa. E mostrou que Gol e Azul estão entre as mais atingidas pela desvalorização do real: enquanto essas empresas recebem de seus clientes pagamentos na moeda local, mais da metade de seus custos é definida em dólar, com grande peso dos combustíveis. Situação semelhante é a da indústria de alimentos M.Dias Branco, que vende praticamente toda a sua produção no Brasil, mas tem cerca de 60% de seus custos em dólar, com grande peso do trigo.

Renner, C&A e Hering também estão na lista das empresas que são mais atingidas. Cerca de 30% dos custos dessas varejistas de moda são definidos pelo dólar (por conta da importação de peças), mas toda a venda é feita no Brasil, em reais. Um descasamento que deve levar a uma piora da margem das companhias, que já vinham enfrentando problemas por causa dos juros altos e concorrência de sites asiáticos.

Não é difícil de entender que o  outro lado da moeda são as companhias que exportam e, portanto, recebem de seus clientes pagamentos em dólar. Segundo o BTG, Suzano e Vale são destaques nessa modalidade: elas têm praticamente 100% de suas receitas em moeda americana, e custos atrelados ao dólar bem menores, entre 35% e 60%, respectivamente.

Petrobras tem 80% de suas vendas em dólares (poderia ter 100% se os preços seguissem o mercado internacional, o que não tem acontecido nos últimos meses). Quando se olha para os custos da petroleira, 50% está atrelado ao dólar – uma proporção alta, mas largamente compensada pela receita em moeda forte.

A alta do dólar também poderia beneficiar a Embraer, que tem 93% das vendas em dólares – e 83% dos custos.

Os balanços relativos ao segundo trimestre vão mostrar esse impacto. Mas o efeito do câmbio extrapola a questão contábil. O movimento abrupto de desvalorização cambial desorganiza a vida das empresas, já que elas precisam trabalhar com planejamentos de longo prazo. 

Isso leva muita gente a adiar projetos de investimento em expansão, por exemplo. E quando esse movimento é causado pela perda da confiança dos agentes no cenário fiscal, como está acontecendo neste momento, pior ainda.

A desvalorização do real também torna as empresas brasileiras menores diante do  investidor estrangeiro que faz as contas em dólar – mesmo que o faturamento em reais aumente, a desvalorização da moeda, por si só, faz a receita cair aos olhos gringos. E como analisar e estudar empresas é algo que custa dinheiro e energia, muitas empresas simplesmente saem do radar desses agentes. E isso pode adiar ainda mais a perspectiva da volta dos IPOs na bolsa brasileira.  

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