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Com alta do dólar, agricultores aceleram a venda de soja no Brasil

A forte desvalorização do real frente ao dólar nas últimas semanas abriu uma janela favorável para as negociações de soja no Brasil, que ganharam uma vantagem cambial frente aos agricultores dos Estados Unidos, principais competidores nesse mercado.

O real perdeu cerca de 11% de valor em relação ao dólar neste ano, em um momento de preocupação com o cenário fiscal brasileiro. O declínio da moeda brasileira encorajou os agricultores a aumentar as vendas, pressionando os preços de referência na Bolsa de Chicago, que corroeu a receita para os americanos.

LEIA MAIS: Gigante das máquinas agrícolas vai gastar US$ 200 milhões para cortar despesas. A culpa é dos grãos

O Brasil é o maior produtor e exportador de soja no mundo, e o grão é o líder da pauta comercial brasileira. Com o real mais fraco, abre-se uma janela relevante para a venda dessa e de outras commodities agrícolas. Foi o que aconteceu.

Em um exemplo claro da influência do real nas negociações, os agricultores brasileiros venderam mais de 4 milhões de toneladas de soja nos cinco dias encerrados em 5 de julho, o maior volume para um período semelhante desde outubro de 2020, de acordo com Victor Martins, gerente de risco da corretora Amius.

“Esta é uma má notícia para os exportadores dos EUA”, prosseguiu Martins. O aumento da moeda pode dar aos agricultores brasileiros uma vantagem competitiva que durará até o quarto trimestre, encurtando o período em que os fornecedores dos EUA normalmente têm vantagem, ele acrescentou.

A correlação entre os preços da soja e o real brasileiro chegou a 59% em junho, mostram dados compilados pela Bloomberg, o que significa que a commodity e a moeda brasileira tendem a se mover na mesma direção. 

Após um início tardio, os produtores brasileiros estão buscando aproveitar a moeda mais fraca para acelerar as vendas da commodity para entrega em 2025. A SLC Agricola, uma gigante agrícola que cultiva soja em uma área quatro vezes maior que a cidade de Nova York, fixou os preços de quase 44% de sua próxima safra, acima dos menos de 28% do ano passado e o maior desde pelo menos três temporadas, de acordo com um documento da empresa.

“Foi uma grande oportunidade, que não esperávamos, principalmente com os futuros em declínio”, disse Eduardo Zorzi, gerente comercial do Grupo Bavaresco, uma empresa agrícola que planta mais de 8 mil hectares de soja no estado de Mato Grosso. 

Por outro lado, quando o real está mais fraco, os custos tendem a subir, uma vez que boa parte dos insumos são “dolarizados”. Um índice Green Markets de preços de fertilizantes no país recentemente subiu para o nível mais alto em mais de um ano quando medido em reais.

© 2024 Bloomberg LP

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