O dólar fechou a quarta-feira em alta firme no Brasil, ultrapassando novamente a barreira dos R$ 5,60, em um dia de pressão para as moedas de países emergentes em função da fraqueza das commodities e do avanço do iene no exterior.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,6568 na venda, em alta de 1,24%. Esta é a segunda maior cotação de fechamento em 2024, abaixo apenas dos R$ 5,6665 de 2 de julho. No mês o dólar acumula alta de 1,18%.
Às 17h30, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,27%, a R$ 5,6625 na venda.
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Com a agenda econômica esvaziada no Brasil, o mercado se voltou para o exterior, em mais um dia de fraqueza das commodities e apreciação do iene.
As preocupações em torno da demanda da China fizeram o minério de ferro — produto importante da pauta exportadora brasileira – ceder 1,65%, a 775,5 iuans (US$ 106,61) a tonelada, na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE).
Os preços do petróleo avançaram no mercado internacional, mas ainda se mantiveram em níveis baixos, próximos dos vistos no início de junho.
Já o iene teve mais um dia de avanço firme em meio à expectativa de que o Banco do Japão possa adotar na próxima semana um primeiro movimento no sentido de elevação de juros. Isso penalizava o dólar em sua relação com o iene, em meio à desmontagem de operações de carry trade realizadas entre Japão e EUA.
No carry trade, investidores tomam recursos em países como o Japão, onde as taxas de juros são baixas, e reinvestem em países onde a taxa de juros é maior – caso dos EUA, mas também dos países emergentes.
Assim, como em sessões anteriores, a desmontagem de operações de carry em iene também afetou moedas de países emergentes como o real e o peso mexicano, conforme alguns profissionais.
“O real e o peso mexicano foram as moedas que mais apanharam para o dólar hoje. O motivo são as operações de carry trade com iene”, comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
“O investidor toma dinheiro no Japão a custo zero e vem para os emergentes ganhar dinheiro. Mas quando acontece algo por lá, ele pega os recursos e vai para o Japão zerar posições”, acrescentou.
Neste cenário, após começar o dia na mínima de 5,5878 reais (+0,01%) às 9h, o dólar à vista subiu à máxima de 5,6637 reais (+1,36%) às 15h52.
“Mais do que a questão do iene, a queda das commodities tem sido relevante para a baixa das moedas emergentes”, avaliou Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
A desistência do presidente Joe Biden em disputar a reeleição nos EUA é outro fator de influência sobre o câmbio.
“Há uma insegurança relacionada à desistência de Biden e de como será a política fiscal nos EUA, dependendo de quem vencer. (O ex-presidente Donald) Trump está na liderança e há dúvidas sobre a agenda comercial a ser adotada por ele”, lembrou Massote.
“Isso faz com que os EUA sejam um pouco mais incertos, mas ainda assim é um destino mais seguro para investimentos que os emergentes, que podem ser afetados pelas políticas de Trump”, acrescentou.
No fim da tarde o dólar seguia em alta firme ante o peso mexicano e outras divisas de emergentes, mas caía ante uma cesta de moedas fortes, em grande parte por conta da disparada do iene. Às 17h28, o dólar tinha queda de 1,02% em relação ao iene, a 153,99.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.
À tarde o BC informou que o Brasil registrou fluxo cambial total negativo de US$ 834 milhões em julho até o dia 19, com saídas líquidas de US$ 2,139 bilhões pelo canal financeiro e entradas de US$ 1,304 bilhão pela via comercial.