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Medo de recessão global pode levar BC a intervir no câmbio e ser cauteloso nos juros, diz Volpon

A disparada do dólar, que bateu a casa dos R$ 5,80 nesta segunda-feira (5), é resultado de uma dinâmica internacional: não tem nada a ver com problemas locais, nem mesmo com a política fiscal. Ainda assim, o movimento é tão intenso e repentino que o Banco Central pode precisar intervir no mercado com o objetivo de organizar o ajuste de preços que está em curso, afirma Tony Volpon, professor adjunto da Georgetown University em Washington D.C. e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.

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Na política cambial brasileira, existe uma premissa: o BC não vai intervir no mercado comprando ou vendendo dólares para defender uma cotação, mas, sim, para garantir a funcionalidade do mercado. Então, se os vendedores simplesmente desaparecem de cena, pode ser o momento de a autoridade monetária fazer um leilão de venda de dólares com o objetivo de ajudar o mercado a encontrar uma referência de preço e, assim, destravar as negociações.

“De fato, não dá para culpar o fiscal desta vez. É um ajuste global, um ambiente de aversão a ativos de risco. Diante disso, o BC deveria intervir para organizar o movimento e garantir liquidez”

Tony Volpon, ex-diretor do Banco central

O que está em curso neste momento, explica o economista, é uma reavaliação do cenário de desaceleração da economia americana. De uma semana para outra, indicadores econômicos mostraram que aquele “pouso suave”, que estava se desenhando, ganhou contornos de recessão. “É como se o avião, que estava em processo de aterrissagem, perdesse 10 mil pés de altitude de uma hora para outra. Fica todo mundo apavorado”, explica.

O que denunciou essa perda de altitude foram os dados do mercado de trabalho americano relativos a julho, conhecidos dias depois da reunião do Federal Reserve (Fed), do dia 31 de julho. O payroll, relatório do mercado de trabalho, mostrou a criação líquida de 114 mil postos de trabalho, ante a expectativa de 175 mil vagas. O número se somou a dados que mostram o aumento da tomada de crédito e da inadimplência pela população de renda mais baixa. E trouxe para a mesa a leitura de que a maior economia global pode, de fato, ter ingressado em uma recessão.

“Nos Estados Unidos, recessão não é a classificação para um cenário de PIB negativo, mas um conjunto de variáveis, que se baseia muito no mercado de trabalho”, explica Volpon.

LEIA MAIS: Como o mercado de trabalho vai ajudar a definir o rumo dos juros, aqui e nos EUA

Mas não são apenas os indicadores macro que explicam essa leitura. Depois da febre das ações de tecnologia, como Nvídia, Microsoft e Apple, o mercado parece estar revendo a tese de investimento em inteligência artificial (IA). Os novos produtos lançados por essas empresas devem revolucionar o mundo, mas ainda não trouxeram receita para elas.

Essa releitura reverteu e euforia – as ações dessas empresas dobrou ou até triplicou de preço no ano – e explica boa parte da queda das bolsas americanas, que estão caindo mais de 3% por dia desde a quinta-feira passada (1).

Volpon lembra que, nos Estados Unidos, a queda da bolsa não é só um termômetro do desempenho das empresas: é também um fenômeno que tira a renda da economia, uma vez que o universo de investidores pessoa física por lá é significativo.

“A queda das bolsas, por si só, gera um impacto sobre o consumo e a confiança do consumidor”, explica. Por isso, a continuidade ou não desse movimento negativo será determinante para a próxima decisão do Federal Reserve.

Para Volpon, a queda observada até agora não justificaria um corte de juros emergencial pelo Fed, como alguns economistas estão prevendo. Por ora, o cenário mais provável é de que haja um ritmo mais acelerado, de 0,5 ponto, nesse processo de alívio monetário, diz o economista.

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Para o Brasil, esse cenário mais incerto deve ser monitorado pelo Banco Central. Isso pode significar, por exemplo, o adiamento de um eventual aumento de juros. Pode ser uma situação parecida com a de 2008, diz o economista. Naquele ano, o BC interrompeu o ciclo de alta de juros temendo os efeitos da retração das economias americana e europeia. E, na sequência, passou a cortar a Selic.

“Claro que, agora, ainda não há sinais de uma crise financeira [quando a saúde das instituições financeiras está sob risco]. Mas certamente é um quadro que merecerá muita atenção”, conclui.

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