Uma forte valorização das ações da Ambipar colocou seu fundador no clube de bilionários do país.
As ações da empresa dispararam mais de 880% desde que atingiram uma mínima histórica em maio. O rápido rali intriga traders, que veem poucos fundamentos para justificar a alta. Alguns apontam para recentes compras de ações pelo fundador Tércio Borlenghi Junior, bem como pela Trustee DTVM, que agora detém 15% do capital. A pressão compradora pode estar alimentando um “short squeeze” na ação, o que amplifica ainda mais os ganhos.
Seja qual for a causa, o salto no preço da ação enriqueceu Borlenghi Junior, pelo menos no papel. O valor de mercado de R$ 11,7 bilhões da companhia avalia sua participação de 73% em R$ 8,5 bilhões. O executivo, de 54 anos, fundou a Ambipar em 1995.
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O investidor veterano Nelson Tanure também tem comprado ações da Ambipar por meio da Trustee DTVM, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto, que pediu anonimato.
A maior parte das negociações com a ação nos últimos meses foi conduzida pelo Banco Master, segundo dados compilados pela Bloomberg. Tanure, conhecido por investir em ativos “distressed”, recentemente se associou a alguns dos principais acionistas do Banco Master para alguns negócios, acrescentou a pessoa.
Borlenghi Junior “não tem o desejo de fechar o capital”, disse em entrevista o diretor financeiro da Ambipar, João Arruda. A companhia não quis fazer mais comentários, assim como o Banco Master. A Trustee não respondeu a um pedido de comentário.
A Ambipar, que opera em 39 países, busca ativamente reduzir seu endividamento e revelou um plano de recompra de ações que, para alguns analistas, apoia a percepção “bullish”. A empresa está confiante de que atingirá sua meta para a dívida líquida/Ebitda de 2,5 vezes mais rápido do que seu prazo final para meados de 2025, segundo Arruda.
A alavancagem consolidada foi de 2,82 vezes a dívida líquida/Ebitda anualizada no segundo trimestre, abaixo de 3,10 vezes nos três meses anteriores, segundo balanço publicado em 8 de agosto.
“Estamos deixando para trás aquela onda de aquisições”, disse Arruda, em referência a mais de 50 acordos de fusões e aquisições concluídos desde 2020. A Ambipar espera crescimento orgânico sustentado daqui para frente, o que deve levar a margens e lucros mais altos, acrescentou.
Ainda assim, o rali começa a gerar preocupação.
“É um movimento bem atípico”, disse Gilberto Coelho, analista da XP, durante uma live na sexta-feira. “Começa a ficar preocupante.”
Com a rápida valorização das ações, os preços-alvo de analistas ficaram muito distantes. Os papéis são negociados a R$ 69,95 cada, muito acima do preço-alvo de 12 meses de R$ 22,72, segundo dados compilados pela Bloomberg. As ações da Ambipar têm cinco recomendações de compra e uma de manutenção.
Posições vendidas nas ações têm diminuído, o que pode sinalizar que o movimento perderá força, segundo Mateus Haag, analista da Guide Investimentos. Investidores que apostam na queda do preço podem ser pressionados se as ações subirem. Nesse caso, precisam correr para fechar suas posições vendidas comprando a ação para limitar as perdas.
O recuo já pode ter começado: as ações da Ambipar caíram 36% nas últimas duas sessões.
“Não houve nenhum driver positivo para justificar a alta, mas sim um movimento especulativo”, disse Haag, da Guide Investimentos. “É muito provável que, nos próximos meses, a ação caia tanto quanto subiu.”