Uma Lamborghini Urus de quase R$ 4 milhões saiu das redes sociais para as páginas policiais no Brasil. O mesmo destino teve sua dona, a advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra, 36, com 22 milhões de seguidores no Instagram.
Ela está presa em Pernambuco sob suspeita de integrar um esquema de lavagem de dinheiro proveniente de casas de apostas. A Polícia Civil diz que o pagamento à vista, de R$ 3,85 milhões, pelo Lamborghini Urus S 2023 foi o gatilho que levantou as suspeitas.
O modelo, um SUV que faz de zero a 100 km/h em 3,5 segundos, segue apreendido. Caso a influenciadora não consiga comprovar que o dinheiro usado na aquisição do veículo tem origem lícita, o automóvel deve mudar de garagem. E essa operação ocorreria por meio de um leilão judicial.
Ao menos 60 leilões, envolvendo todo tipo de carro, acontecem diariamente no Brasil e movimentam pouco mais de R$ 20 milhões. O chamariz é, claro, o preço, que tende a ser menor do que os das lojas de usados. E quanto mais caro o carro, maior tende a ser o abate.
50% mais barato
Nos casos dos modelos de luxo, o desconto pode chegar a 50% do valor registrado na tabela Fipe. Por uma razão bem lógica: há menos disputa. “O comprador de carro de luxo consegue uma margem um pouco melhor. Nas categorias mais baixas, a concorrência é grande, com lances que se aproximam do valor de mercado”, diz Antonio Sato Junior, proprietário da Sato Leilões, empresa sediada em São Caetano do Sul (SP) com mais de 6 mil veículos em oferta.
Também há quem compre em leilões para revender no mercado. “É uma transação que, se feita com estratégia, pode virar um investimento”, diz Marcelo Miguel Rodrigues dos Santos, advogado de São Paulo especializado em leilão de veículos.
Para arrematar um bem dessa forma, você deve preencher um cadastro em alguma casa oficial de leilões (mais detalhes aqui). Nota: os carros que chegam aos pátios das casas de leilão nem sempre têm origem judicial; podem vir de empresas de frota ou seguradoras, por exemplo.
Desistiu da compra? As empresas podem cobrar uma taxa salgada de 10% a 20% do valor do lance.
Ferrari na garagem
Uma Ferrari encabeça a lista de carros mais valiosos leiloados em 2024 pela Copart, multinacional da área de leilões online de veículos. Foi uma F8 Spider, arrematada num lance de R$ 2,7 milhões, valor 60% abaixo do registrado na tabela Fipe (R$ 4 milhões) para o modelo 2021/2022.
O conversível italiano, equipado com motor V8 de 720 cavalos, pertencia a uma seguradora e tinha avarias de média monta (danos na estrutura ou em componentes mecânicos) provocadas por uma colisão. Veículos nestas condições só podem voltar às ruas se forem recuperados.
Adiel Avelar, presidente da Copart no Brasil, diz que a liquidez dos carros de luxo em leilão é grande. “O cliente desse segmento já chega bem informado sobre o funcionamento da operação”, diz.
Não faltam ciladas
Leilão tem dia e hora para começar e terminar. Fechar um negócio exige pesquisa e estratégia para não cair em ciladas, reforça Antonio Sato Júnior, da Sato Leilões. É preciso garimpar os lotes e ficar atento aos canais de propaganda das casas de leilão.
O passo seguinte é fazer a vistoria, de preferência acompanhado por um mecânico, para averiguar as reais condições do veículo.
Não há test drive, mas dá para inspecionar tudo. “É por isso que foto e vídeo do carro não substituem a visita presencial”, salienta o advogado Marcelo Miguel.
Antes de fazer um lance online, é fundamental checar se a empresa é idônea. Assim que a modalidade passou a atuar na internet, também cresceu o número de sites falsos de leilões, como não poderia deixar de ser. “Tenho mais de 100 casos de vítimas no escritório que caíram em golpes com sites clonados”, pontua o advogado Marcelo Miguel.
A recomendação é nunca efetivar a compra por rede social, WhatsApp, Telegram… “Leilão com transmissão online já passa um carimbo de segurança. Mas verifique o CNPJ da empresa, pesquise se há reclamações contra ela em sites como o ReclameAqui”, diz o advogado. Lances de valores particularmente altos, por sinal são monitorados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para coibir ilícitos – como lavagem de dinheiro.