Saltou aos olhos dos investidores a venda pelos estrangeiros de R$ 22,9 bilhões em ações brasileiras já listadas desde o início do ano. Trata-se do maior saque entre janeiro e março desde o começo da pandemia.
Os saques representam uma mudança de tendência quando comparados à entrada de R$ 44,9 bilhões em recursos externos na renda variável nacional no acumulado de 2023. São muitas as razões que explicam essa guinada do fluxo em 2024, mas a principal é a perspectiva para os juros nos Estados Unidos.
Porém, considerando-se a posição em Ibovespa no mercado futuro, os “gringos” não estão tão pessimistas com a bolsa local quanto os números sugerem.
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Dados da B3 mostram que os não-residentes encerraram março “comprados” em índice futuro com cerca de 90 mil contratos em aberto – diferença entre contratos na compra e na venda. Ou seja, os estrangeiros estão apostando na alta do Ibovespa no horizonte à frente.
Em valores, essa posição representa R$ 11,8 bilhões, levando-se em conta a pontuação do contrato mais ativo de Ibovespa futuro, aos 128,8 mil pontos. Esse valor não foi efetivamente desembolsado pelos investidores estrangeiros, mas significa que eles assumiram uma estratégia que pode levar à alocação desse montante entre as ações que fazem parte da carteira teórica.
Decifrando os números
O saldo líquido de capital externo na bolsa, portanto, estava deficitário em R$ 11,1 bilhões ao final do mês passado, considerando-se as saídas no mercado à vista e a sinalização de ingresso de recursos nas operações com derivativos.
Dos quase R$ 23 bilhões que os gringos sacaram da bolsa brasileira no mercado secundário, cerca da metade estava “coberto” por meio de uma “trava” com operações de proteção (hedge) ou de carregamento (carry trade), entre outros instrumentos financeiros.
“Pode ser uma operação de renda fixa realizada [pelos estrangeiros com o uso de instrumentos] na renda variável, visando o ganho de taxa; venda [de ações] aqui e compra lá fora ou pura especulação”, enumera um operador de derivativos.
“O que dá para dizer com essas operações é que os gringos estão vendidos em bolsa em valores menores [do que sugere a saída de capital estrangeiro no mercado à vista]”, comenta um operador sênior de renda variável de uma corretora nacional.
A ver, então, o que os estrangeiros vão fazer com esse descompasso entre o mau humor atual e a esperança de dias melhores. A disputa entre pessimistas e otimistas – ou entre “comprados” e “vendidos” está marcada para o dia 17, quando acontece o vencimento do Ibovespa futuro. Até lá, a bolsa brasileira deve ter pregões de intenso vaivém.