O governo de Javier Milei começou a entregar, nesta terça-feira (4), parte das 5 mil toneladas de alimentos que estão estocadas em dois depósitos do país. A distribuição acontece após dias de polêmica pela descoberta de que a atual administração mantinha os insumos não distribuídos em meio a uma pobreza que ronda 55% da população.
Segundo o governo, que afirmava que os alimentos adquiridos pela administração anterior seriam destinados a afetados por catástrofes, como inundações, a distribuição foi determinada pela proximidade das datas de vencimento de 465 toneladas de leite em pó, a partir de julho.
O leite em pó que estava armazenado começou a ser transportado nesta manhã por caminhões do exército argentino de dois depósitos, em Villa Martelli, na Grande Buenos Aires, e em Tafí Viejo, na província de Tucumán, no norte do país, para 64 centros de distribuição da Fundação Cooperadora para a Nutrição Infantil (Conin).
A instituição sem fins lucrativos assinou um convênio com o governo para a distribuição das toneladas de leite em pó e “deverá certificar, mediante a apresentação de relatórios, os avanços periódicos e em um relatório final, o efetivo emprego dos alimentos nos refeitórios populares”.
Na semana passada, a Justiça argentina ordenou que o governo apresentasse, em até 72 horas, um plano de distribuição dos alimentos estocados. Mas a Casa Rosada afirmou que o Judiciário não deveria interferir em políticas públicas e recorreu da decisão.
Desde o começo do mandato de Milei, organizações sociais protestam contra a paralisação do envio de alimentos para refeitórios populares de setores vulneráveis. A presidência argentina afirma, no entanto, que parte dos refeitórios comunitários que recebiam suprimentos do Executivo não existiam, e que o atual governo acabará com o “negócio da pobreza”.
Mas a polêmica com a retenção de toneladas de alimentos a ponto de vencer provocou até demissões. O ministério do Capital Humano, que absorveu diversas pastas, como a da Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social, e administra os depósitos de alimentos, informou que uma auditoria determinou que não houve um controle permanente do estoque e do vencimento da mercadoria. O ex-secretário da Infância e da família Pablo de la Torre acabou afastado.
A pobreza na Argentina saltou de 44,7% no terceiro trimestre de 2023 para 55,5% no primeiro trimestre de 2024, segundo relatório da Cáritas com o Observatório da Dívida Social Argentina da Universidade Católica, a mais prestigiosa instituição de medição dos índices sociais no país.
No período, a miséria praticamente dobrou: passou de 9,6% para 17,5%. A insegurança alimentar em áreas urbanas chega a 24,7% da população e a 32,2% de crianças e adolescentes. A insegurança alimentar severa, por sua vez, atingiu 10,9%.
Somente desde o começo deste ano, a inflação acumulada chega a 65%. Na soma dos últimos 12 meses, o índice atinge 289,4%.
Compartilhe: