“Manteu”, como todo mundo esperava. E por unanimidade, como todo mundo torcia. Os nove integrantes do Copom votaram pela manutenção da Selic em 10,5%. Uma decisão natural ante à resiliência dos juros nos EUA, que fortalece o dólar subir, e aos sinais incessantes de frouxidão fiscal – dois fatores que vitaminam a inflação, o mal que os juros buscam combater.
O comunicado evitou dar sinais sobre os próximos passos do Copom. Ou seja, deixou na mesa a possibilidade de a Selic permanecer em 10,5% por eras geológicas a fio; mais precisamente, disse o seguinte: que a política monetária “deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
E complementou afirmando que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta” – o que depende, em grande medida, de uma política fiscal “crível e comprometida com a sustentabilidade”.
Tradução: enquanto não houver sinal de que as contas públicas chegarão a algo parecido com um equilíbrio, e de que a inflação ruma célere para a meta e 3%, a Selic não cai mais – no momento o IPCA está em 3,93%, mais próximo do teto da meta que do centro.
Para o mercado, era o melhor que poderia acontecer. O comunicado mostra um BC unido no combate à inflação. Ufa.
Mas há um lado meio vazio nesse copo. Lula subiu ontem o tom contra Roberto Campos Neto, “exigindo” juros mais baixos. Na última reunião do Copom, dia 8 maio, os quatro diretores do BC indicados pelo governo votaram por um corte de 0,50 ponto percentual. Os cinco que tinham vindo da era Bolsonaro/Guedes decidiram reduzir o ritmo para 0,25 pp – e foi o que se deu.
Mais tarde, abafou-se a fogueira com a justificativa de que os quatro do governo atual estavam apenas seguindo o guidance que a instituição tinha estabelecido – o de ir cortando a Selic em 0,50 pp a cada reunião enquanto não caísse um asteroide. Só que o objeto celestial já tinha caído, na forma da mudança da meta de superávit primário para 2025.
Firmou-se, então, a interpretação de que a ala indicada pelo governo seguiu foi outro guidance, o do próprio Lula.
Agora não mais. O quarteto assumiu a postura hawkish dos seus pares mais antigos de Copom. E isso pode trazer algum ruído para a sucessão na autarquia.
RCN sai no fim do ano. Há meses, o favorito para assumir era Gabriel Galípolo, ex-braço direito de Haddad na Fazenda e com boa entrada junto do Presidente da República. Agora, com seu voto “alinhado” ao de Campos Neto e cia talvez o favoritismo caia por terra.
Reforça a tese outro fato, anterior ao anúncio da Selic. Ontem, Lula disse que o próximo presidente do BC será alguém “maduro” e “calejado” (Galípolo tem apenas 42 anos). E que esse novo chefe do Banco Central não pode “submeter-se ao nervosismo do mercado”.
Galípolo pode até não ser o nome dos sonhos da Faria Lima. Mas a aceitação ao seu nome já tinha chegado a um nível confortável. Qualquer turbilhão aí, então, já causa incômodo.
Ainda mais com os nomes que sempre especulam quando se aguarda qualquer nomeação por parte de Lula, caso do ex-ministro Guido Mantega e do atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Surgiu também na bolsa de apostas o nome de Luiz Awazu, que foi diretor do BC entre 2010 e 2015. Dos três, claro, apenas Awazu evitaria uma perda expressiva na credibilidade do Banco Central.