À medida que o dólar sobe, o Brasil encolhe Pelo menos diante do olhar do investidor estrangeiro.
Um bom jeito de enxergar esse fenômeno é analisando o valor de mercado das empresas que compõem o Ibovespa, que reúne as maiores e mais líquidas companhias negociadas em bolsa. Só neste ano, esse valor consolidado caiu 14,11%, de US$ 772 bilhões para US$ 663 bilhões. Para se ter uma ideia, há cinco anos, essas companhias valiam juntas US$ 825 bilhões.
Claro que o ambiente macroeconômico ajuda a explicar essa perda de valor. A alta dos juros que aconteceu entre 2021 e 2023, a inflação e o ambiente internacional instável atrapalharam o desempenho das empresas. Mas a queda do real é a variável-chave para tirar robustez do nosso mercado, num ano em que a moeda americana já acumula uma alta de 16,7%.
O faturamento das companhias do Ibovespa também vem se apequenando. Um levantamento feito pela Avantgarde a pedido do Investnews, mostra que a receita líquida acumulada no período de 12 meses encerrado no segundo trimestre deste ano somava US$ 842,5 bilhões. Em um período equivalente, encerrado no segundo trimestre de 2023, esse volume era de US$ 862,9 bilhões.
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A consequência prática é: o Brasil fica em segundo – às vezes, em terceiro – plano para o investidor estrangeiro. É uma questão bastante prática: analisar uma empresa ou um ativo, especialmente se ele “falar outra língua” exige tempo, conhecimento técnico específico e, portanto, dinheiro. E para quem tem cheques altos, como é o caso do investidor global, que busca oportunidades de negócios fora de seu país, só vale a pena tanto esforço se o ativo tiver um determinado tamanho.
“É um mercado muito pequeno, para uma parte dos investidores estrangeiros que são muito grandes, o que potencialmente pode reduzir o interesse, especialmente quando temos um país com tantas incertezas políticas e econômicas”, explica Felipe Pontes, diretor de Gestão de Recursos da Avantgarde Asset Management.
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É por isso que o Brasil vem perdendo espaço nas carteiras dos investidores globais. O peso do Brasil dentro do índice MSCI Emerging Markets, referência do desempenho das bolsas de países emergentes, caiu de 5,8% no fim de 2023 para 4,2% agora. Essa participação era de 7,4% há cinco anos.
A seca de IPOs, as oferta primárias de ações, tem tudo a ver com esse distanciamento do investidor estrangeiro. E quanto menos eles olham para cá, menos dinheiro chega aqui para impulsionar grandes negócios. Uma espiral negativa baseada em fundamentos, e não em especulação, como alguns do governo estão defendendo.