Habemus presidente do Banco Central. E sem surpresas ou ruídos. Como já havia sido amplamente antecipado, o nome indicado pelo governo para se sentar na cadeira de Roberto Campos Neto a partir de janeiro é Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária da autarquia. Mas as dúvidas não acabaram: o que o mercado financeiro quer saber agora é quem fica no lugar de Galípolo – definição que gera quase tanta ansiedade quanto a escolha para a presidência do BC.
O diretor de Política Monetária tem um papel extremamente importante dentro do BC: ele é o tesoureiro do Banco Central, aquele que vai responder por tomadas de decisão como as de comprar ou vender títulos públicos para o banco, de intervir ou não no câmbio, de garantir o equilíbrio monetário e do relacionamento com o Tesouro Nacional. O diretor de Política Monetária precisa entender muito bem a dinâmica do mercado, falar a mesma língua e ter agilidade para atuar. Sua missão é a de ser a principal interface com o mercado.
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Embora tenha ocupado essa cadeira, Galípolo não tem exatamente esse perfil: economista de formação, sua trajetória não inclui uma ampla experiência como operador de mercado. Mas, na composição atual das diretorias da autarquia, esse papel acabou sendo exercido pelo próprio Roberto Campos Neto, hoje presidente do BC, esse sim com larga experiência na tesouraria do banco Santander.
Um exemplo recente do papel estratégico da diretoria de Política Monetária foi visto durante o mês de julho, quando o câmbio disparou e superou o limite dos R$ 5,60. Na ocasião, o Banco Central consultou algumas mesas de câmbio para avaliar se seria o caso de intervir vendendo dólares ou oferecendo contratos de swap cambial (derivativos que suprem, de certa forma, a demanda pela moeda americana). A conclusão foi de que não havia razões para atuar. Mas, segundo relatos ouvidos pelo InvestNews, a simples consulta feita pelo BC gerou alguma insegurança.
O receio era de que o BC estivesse vendo alguma distorção mais grave no mercado. Ou que estivesse pensando em tentar definir um limite para a alta do dólar – o que vai na contramão do câmbio flutuante e certamente geraria ainda mais instabilidade nos preços. Sem um entendimento preciso de como o mercado funciona e uma boa comunicação, o BC poderia ter cometido um erro nessa gestão.
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Com a mudança do quadro do BC, a bolsa de apostas do mercado agora vai tentar descobrir quem ficará no lugar de Galípolo. Um dos nomes mencionados como potencial candidato é o do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. Mas alguns profissionais veem o nome com reservas por conta do perfil mais macroeconômico de Honorato.
Campos Neto deixa o BC no dia 31 de dezembro. Antes disso, Galípolo deverá ser sabatinado pelo Senado. A expectativa é de que esse protocolo ocorra ainda em setembro, antes da próxima reunião do Copom, agendada para os dias 17 e 18 do próximo mês.
Formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Galípolo comandou o Banco Fator, especializado em parcerias público-privadas (PPP), entre 2017 e 2021, ano em que saiu da instituição. Uma década antes, chegou a comandar a Assessoria Econômica da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, em 2007, na gestão do então governador José Serra (PSDB).
Na campanha presidencial de 2022 se aproximou da cúpula do PT e foi um dos principais assessores de Lula nas pautas econômicas. Também ajudou a reconstruir pontes com o mercado financeiro, que estavam frágeis desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016). No terceiro mandato de Lula, assumiu a função de “número 2” do Ministério da Fazenda até assumir como diretor de Política Monetária do Banco Central em julho do ano passado.