Cobertura de subsídios responde por 13% da conta de luz, diz CEO da Engie
O Brasil é um país de energia farta e tarifa cara. A explicação desse paradoxo tem a ver com um desequilíbrio artificial: o excesso de subsídios para uma parcela dos consumidores.
Quem afirma é Eduardo Sattamini, presidente da Engie Brasil, a segunda maior geradora do país – são 10,5 GW, atrás da apenas Eletrobras (44,7 GW) e à frente da Auren (8,8 GW).
O que se passa é o seguinte. O poder público dá um desconto na tarifa de energia para quem instala placas solares em casa ou na empresa. Os painéis, obviamente, só geram energia durante o dia.
Normalmente sobra energia enquanto o sol está a pino. Esse excesso vai para o sistema, e é distribuído para outros consumidores. Em troca, quem gerou essa eletricidade extra ganha um abatimento na conta de luz, que pode chegar a 90%.
Essa redistribuição, porém, acontece fora do horário de pico (que é o início da noite, quando não há energia solar). As distribuidoras dizem que esse extra não é necessário, mas são obrigadas a oferecer o desconto mesmo assim.
E o gasto a mais das distribuidoras acaba repassado aos consumidores. De acordo com Sattamini, 13% de cada conta de luz estão destinados a cobrir esses subsídios.
Sattamini reconhece que essa política foi importante para a ampliação da energia renovável no país. Mas também considera que agora há um certo exagero, a ponto de gerar o que ele chama de crise: o setor fica mais ineficiente e as tarifas, mais altas. “A conta de luz fica insuportável para quem paga – em favor daqueles que deixam de pagar”, diz.
Transmissão: 2,7 mil km de linhas
A Engie tem 99 usinas, sendo 11 hidrelétricas e 88 complementares, incluindo eólicas, solares e de biomassa. Até 2026, aportará R$ 14 bilhões na execução de novos projetos.
O maior foco da empresa, agora, é expandir para além da geração de energia, ampliando sua presença na transmissão – que é a segunda camada do setor elétrico (a terceira é a da distribuição, a “última milha” da usina até o consumidor).
Sattamani considera a área de transmissão “carente” no Brasil. E está de olho em futuros leilões de concessão. Neste momento, a Engie conta com 2,8 mil quilômetros de linhas – os sistemas Gralha Azul (1.000 km no Paraná) e Novo Estado (1.800 km entre os Estados do Pará e do Tocantins). Elas contam com uma receita anual contratada de R$ 771 milhões – o equivalente a 7% da receita líquida da Engie nos últimos 12 meses.
O ecossistema da Engie vai ganhar mais 1.000 km de linhas no futuro próximo, entre os Estados da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.. Trata-se de um lote de transmissão arrematado em 2023, que ganhou o nome de Asa Branca e está em construção.
Quando estiver pronto, vai gerar uma receita contratada de R$ 249 milhões por ano – depois de ter consumido R$ 2,6 bilhões em investimentos. A previsão é que elas estejam “energizadas”, no máximo, até março de 2029.