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Com mercado à espera do ‘Voa Brasil’, aéreas já oferecem 13% das passagens a menos de R$ 200

O mês de março se inicia com a espera pelo lançamento do programa “Voa Brasil”, com dúvidas sobre a abrangência do programa que promete passagens aéreas por R$ 200. No entanto, dados do setor mostram que bilhetes nessa faixa de preço já representam 13% das emissões.

Além do programa, existe também a expectativa por mais medidas do governo para baratear o preço das passagens aéreas no Brasil e dar suporte ao setor, como a criação de um fundo para as companhias. E, com base nas últimas declarações do governo, tudo isso pode ser oficializado nas próximas semanas.

Aviões no aeroporto internacional de Guarulhos (SP)
16/04/2019
REUTERS/Amanda Perobelli

Na última quarta-feira (21), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse à CNN que a primeira etapa do programa seria lançada em março. Já na segunda-feira (26), ele afirmou em um evento em São Paulo que a oferta de passagens de R$ 200 não atenderia a todos. Segundo o ministro, o “Voa Brasil” será limitado inicialmente a aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que recebem até 2 salários mínimos e estudantes do Prouni.

Embora ainda não se saiba como funcionaria o programa e como ele seria financiado, o governo tem dito que haverá participação das companhias. Em uma de suas entrevistas, Costa Filho chegou a mencionar a participação das empresas Latam Airlines Brasil, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), que teriam prometido oferecer 5 milhões de passagens, segundo ele. 

Questionada pelo InvestNews, a Azul disse em nota que “que vem participando do grupo de trabalho do Ministério de Portos e Aeroportos e colaborando com o desenvolvimento do projeto”. A Gol disse que “apoia a iniciativa”. A Latam não havia respondido ao pedido de comentário até a última atualização desta reportagem. 

Passagens a menos de R$ 200 já existem

De qualquer forma, passagens a R$ 200 não seriam uma criação do programa planejado pelo governo. Apesar de estarem, em grande parte, ligadas a promoções das companhias aéreas, as tarifas nessa faixa de preço são uma parcela significativa do mercado. 

Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), entre 2019 e 2023, 15,2% de todas as passagens domésticas vendidas no Brasil custaram até R$ 200. Considerando somente 2023, a fatia foi de 13%.

Já levando em conta todas as passagens vendidas, dados de dezembro mostram que um bilhete aéreo doméstico custava, em média, R$ 703,09, alta de 8,1% sobre 2022, com R$ 650,20 em valores já corrigidos pela inflação. O número de assentos comercializados, no entanto, caiu 15% no mesmo período, de 2,51 milhões para 2,12 milhões.

Boa parte dos bilhetes vendidos por valores mais baixos que a média vem de ofertas e promoções, muitas voltadas para períodos de baixa procura ou horários com demanda menor por viagens. 

Avião (Imagem de JUNO KWON por Pixabay)

A Gol, por exemplo, informou em nota que “possui um amplo calendário de promoções ao longo do ano, com foco especial nas vendas nos finais de semana e madrugada, que fazem parte do plano da companhia de oferta de tarifas promocionais“.

Em uma delas, em janeiro, a companhia realizou uma promoção com passagens a partir de R$ 144. Em fevereiro, durante o Carnaval, outra promoção oferecia voos domésticos por R$ 184. A Gol tem ainda uma campanha noturna semanal para emissão de passagens para voos adquiridos com maior antecedência, com tarifas a partir de R$ 100. 

Já a Azul informou à reportagem que “oferece passagens por valores abaixo de R$ 200, em diversos trechos da sua malha nacional, como Porto Alegre – Santa Maria, Curitiba – Londrina, Altamira – Belém, Belo Horizonte – Montes Claros, Juiz de Fora – Viracopos, entre outros destinos, mediante disponibilidade de assentos”. 

Por sua vez, ao final de fevereiro, a Latam divulgou ofertas de passagens para voos entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro a partir de R$ 139,30, e entre São Paulo e Curitiba por R$ 160,10.

Passagem vai cair mesmo?

Depois de disparar 47% em 2023, o preço da passagem aérea tem arrefecido neste início de 2024. É o que mostram números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre janeiro e fevereiro, houve queda de 15,24%, considerando a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15). 

Mas a expectativa é de que os preços da viagem de avião sigam pressionados, segundo Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes. Primeiro por conta do retorno da demanda por viagens após a pandemia, que ainda segue forte. Depois, por fatores do próprio mercado de aviação, segundo ele. 

“Hoje nós temos uma carência de oferta de aeronaves no mundo todo, não só no Brasil. A Boeing e a Airbus não estão conseguindo atender aos pedidos porque o mundo inteiro está querendo voar. A demanda por aviação está alta e a oferta não consegue atender”

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes

Ao lado da alta demanda, as dificuldades enfrentadas pelas empresas ajudam a encarecer o preço da passagem. Nesse cenário, o governo estuda a criação de um fundo bilionário para as aéreas. A ideia é dar suporte para que companhias recuperem o reequilíbrio financeiro após a pandemia. Neste mês, a Gol entrou em recuperação judicial.

Nesta quinta-feira (29), o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu ajuda às companhias aéreas brasileiras e afirmou que o banco pode ofertar crédito a elas desde que seja criado um fundo garantidor com recursos da União.

As medidas não estão livres de críticas. “Qualquer ação de governo que venha a diminuir impostos ou subsidiar alguma coisa, alguém paga a conta”, diz Quintella, que vê com desconfiança também a promessa de emissão de passagens por menos de R$ 200 por meio de um programa do governo, mesmo que seja para um público direcionado como aposentados e estudantes.

“As companhias não vão liberar os voos de R$ 200 em todos os horários, para todas as rotas. Isso não existe. Não tem almoço grátis.” 

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