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Copom terá de elevar a Selic para 12,25% até março, diz ex-diretora do BC

O Banco Central precisa mudar o rumo e aumentar os juros em quase 2 pontos percentuais nos próximos seis meses para acalmar uma economia aquecida e controlar as expectativas de inflação, disse a ex-diretora de Assuntos Internacionais da instituição, Fernanda Guardado.

Os diretores deveriam começar com um aumento de 0,25 ponto percentual neste mês e poderiam seguir com meio ponto nas reuniões de novembro e dezembro, levando a Selic para 12,25% em março, disse em entrevista. As perspectivas de gastos públicos pioraram, o mercado de trabalho está apertado e o crescimento está avançando, disse ela.

“Para o Banco Central optar pela manutenção, ele teria que mostrar de uma forma muito enfática de onde está esperando que venha o desaquecimento da economia”, disse Guardado, 44 ​​anos, que é agora chefe de pesquisa para a América Latina no BNP Paribas. “Hoje está bastante difícil entender de onde viria um grande desaquecimento da economia se não for pelo lado da política monetária”, acrescentou ela.

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O BC não deu sinalização formal para a reunião de setembro. Recentemente, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, disse que, “se e quando” houver ajuste nos juros, será gradual.

A previsão da ex-diretora mostra como o cenário da política monetária mudou drasticamente nos últimos meses. O BC cortou juros até maio, antes de interromper o ciclo de flexibilização de quase um ano, em junho, com a Selic em 10,50%.

O PIB do segundo trimestre superou as expectativas e expandiu 1,4%, com crescimento da indústria, gastos das famílias e serviços. Em contraste, outros países da região, como México, Chile e Colômbia, registraram crescimentos escassos ou contração.

Ao mesmo tempo, o IPCA-15 de agosto desacelerou pouco, para 4,35% na comparação anual. Economistas pesquisados ​​pelo BC veem a inflação acima da meta de 3% até 2027.

Um ajuste fino das taxas de juros é necessário e “pode ser suficiente para o BC atingir a meta no horizonte relevante de 18 meses”, disse Guardado, doutora em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. “O BC tem que estar confortável tanto em projetar o 3,2% quanto 2,8%.”

Enquanto estava no BC, Guardado discordou quando a autoridade monetária iniciou um ciclo de flexibilização. Ela apoiou um corte inicial menor, consolidando assim sua reputação de integrante mais hawkish. 

“Com o benefício do tempo ocorrido, talvez tivesse sido mais prudente de fato começar o ciclo de cortes de uma forma mais cautelosa”, disse ela. “O corte de juros talvez tenha ido um pouco além do que a economia mostrou que precisava.”

Ela vê a inflação terminando este ano próximo a 4%, embora essas estimativas estejam sob revisão. Da mesma forma, embora ela espere atualmente que a economia cresça 2,4% em 2024, essa projeção provavelmente aumentará.

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Em maio, uma votação dividida do Copom despertou preocupações dos investidores de que a instituição poderia ser mais tolerante com a inflação. Nessa altura, quatro membros do comitê indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva eram favoráveis a um corte de meio ponto, mesmo quando as estimativas dos gastos públicos e de inflação subiam, enquanto a maioria liderada por Campos Neto decidiu por uma redução de 0,25 ponto. Desde então, os membros do Copom votaram por unanimidade e, em discursos públicos, reforçaram que há “coesão” nas opiniões econômicas.

“Acho importante que seja unânime a decisão e a sinalização”, disse Guardado. No entanto, ela argumentou que as dissidências não deveriam ser interpretadas como políticas, uma vez que os membros do conselho deveriam ser livres para discordar. “É importante que a comunicação agora seja mais simples, seja mais direta.”

Na semana passada, Lula nomeou o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para substituir Campos Neto, cujo mandato terminará em dezembro. O Senado ainda precisa aprovar a nomeação de Galípolo. 

Galípolo “é uma pessoa bastante calma, bastante serena, isso é uma característica importante para quem vai ser presidente do Banco Central”, disse Guardado. “As declarações recentes dele deixam claro que ele tem essa determinação em fazer o necessário para que a inflação no Brasil possa convergir para a meta”.

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Fernanda Guardado, ex-diretora do BC e atual chefe de pesquisa para a América Latina no BNP Paribas