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Gestoras brasileiras alimentam volatilidade em mercados da América Latina

No início da manhã de 7 de junho, os futuros de taxas de juros dispararam descontroladamente no México. Durante toda a semana, eles se mantiveram estáveis, mesmo com o peso caindo após a vitória esmagadora do partido de esquerda no poder nas eleições. Mas agora, a venda repentina estava se espalhando para o mercado de taxas.

À medida que os rendimentos disparavam ao longo do dia — mais de um quarto de ponto percentual em alguns contratos — a notícia se espalhou rapidamente pelas mesas de negociação na Cidade do México: “São os brasileiros”.

Por “brasileiros”, eles se referiam aos fundos hedge daqui. Alguns dos maiores e mais poderosos em São Paulo e Rio de Janeiro haviam comprado ativos mexicanos nos meses anteriores à votação. As apostas malfadadas no peso eram grandes. Essa parte não era tão incomum. O peso mexicano se tornou ativo popular, e investidores do Japão aos EUA foram prejudicados quando ele despencou.

Como a origem não nega, os fundos brasileiros se encontraram melhor no mercado de juros futuros, afirmam os traders mexicanos. 

Casas como Genoa Capital, Kinea Investimentos, Vinland Capital e Ibiuna Investimentos reforçaram suas apostas na queda das taxas no México, acumulando coletivamente, uma posição desproporcional em um mercado que é apenas uma fração do tamanho do mercado de peso. Então, quando vários deles de repente decidiram desfazer essas apostas, cedendo à pressão que aumentou à medida que a queda do peso eliminava a perspectiva de cortes nas taxas, eles elevaram rapidamente os futuros de taxas.

O episódio destaca a força potente que os fundos hedge do Brasil estão se tornando em toda a América Latina. De Bogotá a Santiago, eles entram e saem dos mercados, elevando e pressionando os preços dos ativos e, no processo, atraem a atenção dos investidores locais que reclamam sobre como esse fluxo de dinheiro estrangeiro alimenta a volatilidade.

Isso é em parte um reflexo do crescente poder econômico do Brasil. Enriquecidos por um boom de exportação que durou décadas, brasileiros ricos começaram a entregar somas cada vez maiores de dinheiro para gestores de fundos hedge, aumentando seus ativos sob gestão três vezes nos últimos 10 anos para R$ 1,6 trilhão (US$ 290 bilhões) e alimentando uma busca por oportunidades no exterior para implantar estratégias que eles aperfeiçoaram ao longo de anos navegando pela alta inflação no Brasil.

Frequentemente, essas oportunidades são mais fáceis de encontrar, dizem os gestores de fundos, em países vizinhos com fundamentos econômicos semelhantes. “Os fundos hedge brasileiros estão definitivamente sendo mais notados”, disse Thierry Wizman, diretor de moedas globais e estrategista de taxas de juros da Macquarie Futures em Nova York. “Muitos deles acumularam muitos ativos e estão se fazendo notar através de suas negociações.”

Aposta frustrada

No mercado de futuros de taxas, Genoa, Kinea, Vinland e Ibiuna — casas de São Paulo que juntas gerenciam mais de US$ 36 bilhões em ativos — todos haviam acumulado posições receptoras que se beneficiariam se as taxas caíssem, de acordo com notas de investidores vistas pela Bloomberg News e pessoas familiarizadas com o assunto.

A aposta era que os formuladores de políticas reduziriam gradualmente a taxa de referência de 11% à medida que o peso subisse e a inflação desacelerasse. As eleições não deveriam mudar essa perspectiva. Mas quando a presidente eleita Claudia Sheinbaum e seus aliados no congresso obtiveram vitórias tão grandes que começaram a falar em implementar políticas que poderiam remover os controles sobre o poder do governo, isso desencadeou uma onda de vendas em pânico nos mercados mexicanos.

A Genoa saiu completamente da negociação após a eleição, enquanto a Vinland e a Ibiuna reduziram suas posições, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas discutindo decisões privadas.

Dos 15 fundos hedge de grande porte com pior desempenho no Brasil naquela semana, pelo menos sete deles tinham exposição ao México, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Genoa, Vinland, Ibiuna e Kinea estavam todos entre esse grupo.

José Oswaldo Monforte, gerente de portfólio da Vinland, disse que o fundo macro da empresa estava apostando que os contratos que vencem em cerca de dois anos caíram mais rapidamente do que os que vencerão em um período mais curto. O fundo agora está “relativamente neutro” em taxas mexicanas, disse. Genoa, Kinea e Ibiuna se recusaram a comentar.

Movimento offshore

O movimento das gestoras refletem o atual cenário da indústria de fundos no Brasil. Com a taxa Selic estacionada em dois dígitos – atualmente em 10,5% – alguns investidores não sentem que precisam de um gestor de fundos hedge para gerar renda para eles, muitos fundos viram saídas de capital. Os retornos também foram fracos. Um índice que acompanha o desempenho dos fundos hedge está estável no ano, seu pior primeiro semestre desde 2020, arrastado em parte pela queda nas ações e títulos brasileiros.

O avanço da indústria em mercados estrangeiros foi em parte um esforço para amortecer os retornos contra o mercado fraco no Brasil. Muitos fundos abriram escritórios e montaram mesas de negociação internacionais na América do Norte, Europa e Ásia.

Eles fizeram algumas apostas ousadas nesses mercados, incluindo um grande acerto que conseguiram alguns anos atrás ao prever a alta dos rendimentos nos EUA, mas é na América Latina onde têm a força para realmente movimentar mercados.

Como naquela vez em Bogotá em 2022, quando vários deles apostaram contra o peso colombiano e, no processo, aceleraram uma queda mensal em que a moeda despencou 9%.

De volta ao México, os fundos brasileiros não estão desistindo completamente da negociação de taxas. A queda no mês passado pode tê-los forçado a reduzir suas apostas, mas não abalou sua convicção de que as taxas estão caindo.

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