Se a economia pudesse ser resumida a um único produto — o Big Mac —, o Brasil está bem.
A inflação do sanduíche no país em um ano até aqui foi zero, quer dizer, o preço não mudou.
É a menor variação de uma lista com 16 países onde os aumentos do preço do Big Mac chegaram a se aproximar dos 180%, caso da campeã Argentina.
Considerada a inflação do Big Mac desde o começo da pandemia, em janeiro de 2020, o Brasil também não se sai mal: o preço do hambúrguer subiu 15% nas lanchonetes brasileiras nesses três anos e meio. Mesmo assim, foi a terceira menor variação dos 16 países.
É o que mostram dados compilados pela CNN a partir do “Índice Big Mac”, o tradicional indicador criado pela revista britânica Economist que acompanha o preço do hambúrguer em diversos países.
O ranking é uma maneira “despretensiosa”, de acordo com a publicação, de comparar os custos e as taxas de câmbio de cada um deles.
A ideia é que, como os ingredientes do principal sanduíche do McDonald’s são rigorosamente iguais em todos os países, ele deveria custar sempre a mesma coisa, quando convertido para dólares, acaso essas economias estivessem em equilíbrio.
O levantamento é feito semestralmente e os dados de junho de 2023 foram divulgados nesta semana pela publicação.
Com aumentos de 180% e 102%, respectivamente, os Big Macs da Argentina e da Turquia foram os que mais subiram em 2023. Os dados comparam a variação dos preços em um ano, entre junho de 2022 e junho de 2023.
Nos Estados Unidos, o valor cobrado pelo Big Mac subiu 8,3%. Ele saiu de US$ 5,15 em junho do ano passado para US$ 5,58 agora — o equivalente a R$ 27,30.
Foi, de acordo com a Economist, que calcula o índice desde 1986, o maior reajuste no preço do sanduíche nos EUA em 11 anos, desde 2012.
A revista chamou o fenômeno de “McFlação” (“McFlation”).
Ainda assim, não é, de longe, a pior variação. Mesmo em outros países desenvolvidos, a inflação do Big Mac em 2023 chega a ser o dobro ou mais do que a norte-americana.
Na Zona do Euro e no Reino Unido, o aumento nesses 12 meses foi da ordem de 13,5%, e, no Canadá, o preço subiu 20%.
No Japão, país que, até a pandemia, lutava há décadas com uma estagnação de preços e crescimento econômico, o Big Mac ficou 15% mais caro desde o ano passado.
De acordo com a Economist, essa diferença grande entre a inflação dos Estados Unidos e a de seus pares é sintoma de que o dólar, também, está ficando mais forte em relação às moedas deles.
“Como o preço dos hambúrgueres está subindo ainda mais rápido na Europa, no Japão e no Canadá do que na América, o poder de compra da moeda deles está caindo mais rápido do que o do dólar”, diz a publicação em reportagem.
As discrepâncias refletiriam em parte, também, as subidas de juros mais agressivas que já foram feitas pelo banco central dos EUA, o Federal Reserve, do que por outros, em meio a inflações que se aproximaram ou passaram dos dois dígitos pela primeira vez em décadas nesses países.
“Quando as taxas de juros sobem — como subiram mais dramaticamente no ano passado nos Estados Unidos do que em muito países ricos — a moeda tende, primeiro, a subir, para depois se enfraquecer gradualmente.”
O fato de o McDonald’s brasileiro não ter mexido no preço do cardápio no último ano não significa, entretanto, que ele passou incólume à inflação da pandemia, que foi especialmente cruel com os alimentos, no Brasil e no mundo.
O reajuste só veio mais cedo. Em janeiro de 2020, um Big Mac custava R$ 19,90 no Brasil, R$ 3 a menos do que hoje. É um aumento acumulado de 15% desde então.
É, ainda assim, menos que a maioria dos países. Nos vizinhos Uruguai, Chile e Colômbia, o preço do sanduíche acumula alta de mais de 40% desde então. No México, a alta foi de quase 80%.
Na Zona do Euro, o Big Mac está, em 2023, 28% mais caro do que no começo da pandemia.
Na Turquia, o aumento acumulado desde 2020 passou dos 630% e, na Argentina, é de mais de 860%.
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