Lemann tenta salvar a Americanas após fraude de US$ 5 bilhões
Jorge Paulo Lemann, o bilionário brasileiro, disse que, junto com seus parceiros de longa data, está tentando salvar a varejista Americanas depois que uma enorme fraude de US$ 5 bilhões levou à empresa a pedir proteção contra falência. O trio de investidores, que inclui Marcel Telles e Carlos Sicupira, é dono da Americanas desde o início dos anos 1980 e sua participação era de cerca de 30% quando o escândalo estourou.
Agora, no meio de uma reestruturação e recapitalização da dívida, eles serão donos de cerca de metade do negócio. “Tivemos uma crise em uma de nossas empresas, a primeira empresa que compramos”, disse Lemann em referência à Americanas, rede varejista com lojas em todo o país. “Temos de lidar com isso. Estamos lidando com isso. Tem 30 mil funcionários, então temos que tentar salvar a empresa.”
A empresa culpou a anterior equipa de gestão liderada por Miguel Gutierrez, dizendo que este enganou o conselho e escondeu certas contas ligadas a contratos de marketing e financiamento da cadeia de abastecimento para inflar os resultados. Embora a Americanas represente uma fração da fortuna de Lemann, de cerca de US$ 23 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, o escândalo tem sido uma mancha na sua longa e ilustre carreira de investidor.
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Os principais acionistas estão investindo R$ 12 bilhões para recapitalizar a empresa e se comprometeram a não vender ações por pelo menos três anos.
Além de um comunicado conjunto no início de 2023, é a primeira vez que Lemann fala publicamente sobre a fraude contábil na Americanas. Seu sócio Sicupira é mais atuante na empresa há muito tempo e ainda faz parte do conselho.
Lemann, 84 anos, é mais conhecido por ser cofundador da empresa de aquisições 3G Capital e por ter construído separadamente um império cervejeiro que acabou levando à aquisição da Anheuser-Busch para criar a AB InBev SA, a maior fabricante de cerveja do mundo.
Através da 3G, Lemann e seus sócios compraram o Burger King e outras redes de fast-food e as transformaram na Restaurant Brands International Inc. Eles também fizeram parceria com Warren Buffett para comprar a Heinz, depois a Kraft e fundi-las.
O valor de mercado da Americanas encolheu para apenas R$ 500 milhões, ante R$ 10,5 bilhões antes da crise no início de 2023. Em outros comentários que ecoaram a saga Americanas, Lemann ressaltou a importância da confiança e de como as pessoas podem mudar com o tempo.
“Se você está delegando, também corre riscos. Temos nos saído muito bem com a delegação, mas há problemas aqui e ali. As pessoas não são exatamente como você esperava ou reagem de maneira diferente”, disse.
Durante a conversa de quase uma hora dn 10ª Conferência Anual de Harvard no Brasil, Lemann também falou sobre o surf e o tênis no Rio de Janeiro quando era jovem, suas dificuldades iniciais com o curso de Harvard e seus primeiros empreendimentos comerciais. Ele incentivou os alunos a assumir riscos e obter experiência na vida real, em vez de correrem direto para a escola de negócios.
Sobre questões de governança, também falou sobre o processo de preparação para entregar o controlo à próxima geração.
“Nós, que construímos e operamos esses negócios no passado, não poderemos mais operá-los porque estamos envelhecendo”, disse Lemann. “Temos que criar um sistema de trabalho por meio de conselhos e um tipo de governança diferente do que tínhamos no passado, quando estávamos lá promovendo as coisas nós mesmos.”
Seus filhos, Marc e Paulo Alberto, participam de diversos conselhos, enquanto os filhos de seus sócios também ocuparam cargos em negócios associados. Telles transferiu sua participação na AB InBev para seu filho no final do ano passado.
Lemann raramente fala publicamente e não costuma dar entrevistas à mídia. Uma das últimas vezes que falou publicamente foi em uma conversa com seu também empresário brasileiro Abílio Diniz, em 2022. Diniz faleceu aos 87 anos no início deste ano.