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O desafios de sete empresas brasileiras negociadas na Bolsa de Nova York

O InvestNews realizou um trabalho de fôlego com 7 das 34 empresas brasileiras que têm hoje suas ações listadas na maior Bolsa de Valores do mundo, a New York Stock Exchange (NYSE), para a série documental “Brasil em Wall Street“. Entrar para esse seleto clube de elite exige alto grau de maturidade organizacional e de governança.

Abaixo, um breve perfil das 7 empresas – Suzano, Embraer X, Gerdau, Itaú, Nubank, Eletrobras e VTEX – e a visão de futuro dessas sete multinacionais brasileiras que avançaram na internacionalização não só de sua estrutura de capital, mas também de suas operações. No grupo há desde empresas centenárias, como a Suzano, como novatas, como o Nubank. Em comum, um forte traço de inovação e o olhar para as transformações em curso.

Suzano: investimentos bilionários e novos negócios

A Suzano, que acaba de completar 100 anos, é a maior produtora mundial de celulose de mercado e referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto.

Tem investido em novas frentes de produção, na verticalização, internacionalização e entrada em novos produtos. Nesta quarta (12), anunciou a entrada no setor têxtil com compra de 15% da empresa austríaca Lenzing, uma das mais tradicionais empresas de fibra celulósica destinada à produção de roupas.

Também em junho de 2024 deve entregar o projeto Cerrado, um novo complexo de produção de celulose no Mato Grosso do Sul que consumiu R$ 22,2 bilhões em investimentos e que elevará a produção da empresa em 2,55 milhões de toneladas, para 13,5 milhões de toneladas no total.

Marcelo Bacci, diretor executivo de finanças e de relações com investidores e jurídico da Suzano, diz que a companhia tem acompanhado com atenção as mudanças de comportamento dos consumidores. Permanentemente atualiza sua estratégia para abraçar novas frentes, como produtos de papel para higiene, que Bacci avalia como crucial num contexto de maior acesso à saúde e crescimento da classe média em todo o mundo.

A empresa passa ainda por uma mudança importante na gestão: em julho de 2024 sai da presidência o executivo Walter Schalka, no cargo desde 2013, e entra João Alberto Abreu, ex-presidente da Rumo.

Embraer X: “disrupção” como resultado de planejamento

Aceleradora da Embraer, a Embraer X foi criada em 2020 para apoiar o desenvolvimento de iniciativas disruptivas como a Eve Air Mobility, a companhia que desenvolve um dos “carros voadores” (EVTOL) mais promissores do mercado global – e que deve ser lançado em 2026, com mais de 3 mil encomendas já contratadas no primeiro semestre de 2024. O EVTOL da Embraer X são veículos elétricos, para quatro passageiros, com potencial para transformar a mobilidade urbana, com redução expressiva nas emissões.

A Embraer está comprometida a ser “Net Zero” (neutralidade na emissão de carbono) até 2050, o que representa um grande desafio para o setor, que ainda não tem modelos viáveis de aviões de grande porte movidos a energia limpa. Para isso, de acordo com Daniel Moczydlower, CEO da Embraer X, será preciso encontrar soluções com combustíveis verdes, ou mesmo hidrogênio, combinadas com baterias que suportem ao menos parte dos trajetos. Para ele, a disrupção será resultado de planejamento e investimentos consistentes.

O surgimento da Embraer X e de seu primeiro “filhote”, a Eve, é caso de estudo sobre modelos de inovação em empresas de alta complexidade. A Embraer, fundada em 1969 e uma das primeiras empresas nacionais a ser privatizada, em 1994, tem 19 mil colaboradores, sendo 4 mil são engenheiros. É hoje a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo e líder absolutos no segmento de até 130 assentos.

Gerdau: respiro com taxa a aço chinês

A entrada excessiva de aço importado no mercado brasileiro, sobretudo da China, desafiou a Gerdau nos últimos meses e segue como fonte de pressão nos mercados em que a siderúrgica atua. Um certo alívio para os resultados veio em abril, quando o governo fixou cotas de importação para 11 produtos e a aplicação de uma tarifa de 25% na importação que exceder a taxa.

O respiro permitiu que a Gerdau reforçasse seu plano de investimento de R$ 7,5 bilhões no país até o fim de 2025. Cerca de metade deste valor será aplicado em plataforma de mineração sustentável e o restante em modernização de unidades de produção de aço.

Nascida em 1901, quando João Gerdau comprou uma fábrica de pregos de Porto Alegre (RS), a Gerdau atua em sete países, tem 32 unidades produtoras de aço, 28.350 colaboradores diretos e indiretos no mundo inteiro e é a maior recicladora de sucata ferrosa da América Latina.

Como aponta Rafael Japur, vice-presidente executivo de finanças (CFO) da companhia, um desafio, em especial, marca a empresa: a dificuldade de atrair novos talentos para um setor considerado pouco atraente pelas novas gerações. Em resposta, a Gerdau tem investido em comunicação, apontando em suas campanhas o quanto o aço está presente na sociedade, dos talheres aos automóveis.

Itaú: tecnologia e transformação cultural

Às vésperas de completar 100 ano, o Itaú Unibanco é hoje o maior banco privado do país e o maior conglomerado financeiro do Hemisfério Sul, com uma carteira de crédito de mais de R$ 1 trilhão. A instituição observou a transformação que o setor começava a sofrer com a entrada das fintechs e decidiu abraçar a inovação e apostar na transformação da cultura corporativa.

A mudança cultural ficou a cargo do executivo Milton Maluhy Filho, que entrou no banco em 2002 e assumiu a cadeira de CEO em 2021. Um de seus trabalhos também tem sido o de imprimir uma velocidade maior na interpretação das dores dos clientes. Maluhy considera que esse é um desafio especialmente complexo para uma instituição financeira que atua em 18 países e tem 85 mil funcionários.

Com uso de Inteligência Artificial (IA) e baseada em dados, a empresa tem buscado entender o comportamento dos consumidores, de forma a antecipar demandas e entregar soluções eficientes. No lado do marketing, deu este ano sua maior tacada: patrocinou o show aberto da cantora Madonna na praia de Copacabana, no Rio.

A performance indica que a estratégia tem trazido bons resultados financeiros. No primeiro trimestre do ano, o Itaú Unibanco registrou lucro recorde de R$ 9,77 bilhões, em comparação com R$ 9,4 bilhões no último trimestre do ano passado e de R$ 8,435 bilhões no primeiro trimestre de 2023.

Eletrobras: privatização e avanço em energia renovável

Maior empresa de energia elétrica da América Latina e uma das maiores do mundo, com seis décadas de trajetória, a Eletrobras foi privatizada em junho de 2022, na maior operação de desestatização realizada no país em 20 anos. 

Foi decisiva para a construção de usinas hidrelétricas fundamentais para a economia brasileira, como Paulo Afonso, Sobradinho e Itaipu, além das usinas nucleares de Angra I e II, além de Xingó – e, mais recentemente, Jirau e Belo Monte. 

Agora, como informa o CEO, Ivan Monteiro, em entrevista para o documentário “Brasil em Wall Street“, a companhia segue olhando para um futuro apoiado em fontes renováveis de eletricidade. Investe em alternativas em ascensão, especialmente eólica e solar, mas também em hidrogênio verde, com foco na descarbonização de siderúrgicas.

Do ponto de vista de gestão, vem enxugando o quadro de funcionários em busca de maior eficiência em suas operações, que abrangem geração, distribuição e transformação. A Eletrobras produz 23% da energia gerada no Brasil, com 97% do total originada em fontes renováveis – o plano é chegar a 100%. Para isso, precisa ainda solucionar uma pendência importante: a privatização limita o poder de voto de qualquer acionista a no máximo 10% das ações, e o governo federal, que mantém cerca de 42% de participação na empresa, questiona a decisão.

Nubank: internacionalização, inovação e foco no cliente

Tudo começou com um cartão de crédito. Mas a fintech que nasceu em 2013 em São Paulo expandiu seus produtos para conta, investimento, seguros e crédito. O Nubank tem hoje 100 milhões de clientes e opera em três países. No Brasil, são 92 milhões; no México, 7 milhões, e na Colômbia, 1 milhão.

No ano passado, teve lucro de US$ 1 bilhão e no primeiro trimestre deste ano, de US$ 379 milhões. É hoje uma das instituições bancárias mais relevantes do continente, segundo a agência de classificação de risco S&P Global Ratings.

David Vélez, cofundador e CEO global, aponta que o sucesso da instituição é resultado da capacidade de ouvir atentamente o consumidor: de ter entendido as dores dos clientes no início da operação e de seguir ouvindo o que ele tem a dizer. Para Vélez, à medida em que as organizações ganham espaço e sucesso, elas escutam menos e falam mais.

Empresa mais inovadora da América Latina, segundo a Fast Company, o Nubank tem se preparado para acelerar sua expansão internacional nos próximos anos. Considera como diferencial seu baixo custo, em grande parte resultado da alta escalabilidade e de uso intenso de tecnologia.

O banco é a mais recente empresa brasileira a ter realizado sua abertura de capital na Bolsa de Nova York, em dezembro de 2021.

VTEX: expansão para EUA e uso de IA na personalização

Fundada em 2005, a VTEX nasceu como uma startup que, a partir de um “software as a service” (Saas), permitia que grandes players do varejo realizassem atividades comerciais on-line. O modelo contribuiu para transformar o e-commerce brasileiro e abriu espaço para que a VTEX se tornasse o primeiro unicórnio brasileiro a realizar um IPO (“initial public offering”, ou oferta pública inicial), em julho de 2021. Tem suas ações negociadas na Bolsa de Nova York.

Geraldo Thomaz, cofundador da VTEX, diz que o maior medo de quem “disrupta” o mercado, como foi o caso da empresa, é ser “disruptado”, ou seja, ter seu modelo e seus produtos desafiado por novas empresas ou soluções. Para evitar esse cenário, a empresa tem no seu planejamento estratégico a expansão geográfica de suas operações para novos mercados e o investimento em inteligência artificial.

Para Thomaz, as próximas fronteiras a atravessar são Estados Unidos e Europa. No uso de IA, um dos principais focos está na personalização. A vida dos consumidores, segundo ele, já está bastante influenciada pelo uso de inteligência artificial. As prateleiras dos sites e das mídias sociais, os anúncios, são projetadas com base na tecnologia, de forma personalizada, diz.